ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

IVAN DE CAMPOS



       MANTIQUEIRA 3 HQ

       Olhos sextavados.
       Uma tela de arame (aquecida ao branco).
       Brilha.
       Você ali: olhando.
       É, tinha que ser, você já tinha visto isso antes.
       Um segundo e já é memória.
       Ângulos curvos – Equações integrais de ordem n.
       Encontrar a penumbra – Glaçúcar.
       Seguir o roteiro,
       saber de antemão o futuro (que já é presente).
        Ma     tuor       in         djúnculs!
       Uma    tória      em       drúnculos.
                                     quadrúnculos.
              história
       Uma história em quadrinhos!
       E a barata caminha no canto da sala.


       ESPALHAMENTO RAYLEIGH

       O sol é só
       brilho-luz branca...

       que o ar logo espalha
       tanto mais quanto
       mais energia
       tiver o fóton.

       O olho mais vê
       mais perto do
       verde do plâncton;

       supera o ciano,
       o irmão violeta,
       vendo o olho só:

       azul no céu,
       pôr-do-sol púrpura.


       WTC

       Colapsaram as torres,
       alvo de kamikazes.
       Hübris obscurantista:
       imolante torquês.

       Ao fogo, segue o pó.
       Massa ferida a mó,
       imagem de revista...
       vida que perde a vez.

       Século vinte-um: fim-
       começa. Não jasmim,

       exala putrescina,
       e mais cadaverina.

       Armagedom em verde.
       Apenas a paz perde.


       MINDWORKS II (TURTLEBERRIES)

       Então, ocorre (se você está pronto):
       das entranhas, sensações orgânicas difusas.
       Flores de cana – pseudo-neve.
       Atenção: você agora adentra a derme urbana.
       Assim, cães te saudarão.
       E gatos dormirão ao sol (vento frio) em seu colo.
       Não esquente, sempre há caçadores de bambu
       (e periga pintar um churrasco, à noite).
       Atingindo o portal de tijolos, você será recebido
       pelo mestre-jardineiro, cercado de plantas.
       Negros, os seus animais, cão e gato.
       Será ele o seu guia na noite.
       Estrelas cadentes marcarão a jornada, que será rápida.
       Copos de alumínio afastarão da cerveja o calor,
       após voce conhecer os refugiados.
       Não perca, porém, de vista o tempo, que o amanhecer
       do quarto dia marcará o final deste
       ritual de passagem.


*


Ivan Pérsio de Arruda Campos é químico, professor de ciência da computação, poeta e tradutor. Colaborou nas revistas Corpo Extranho 3 (1982) e Código 12 (1989/1990), assinando como Pérsio de Arruda. Os poemas aqui apresentados foram escritos, respectivamente, em 1983, 2004, 2001 e 1983.

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