“Um oásis oco dorme o celofane das miragens...”
I.
Nuances do adeus,
outro: o sino-cegueira
naufraga e geme,
geme os cães, os gumes.
Minúsculo músculo,
és quem senão próximo?
Locus das coisas,
nenhures-morada,
das falhas marinhas
o cipreste-maçã, o mais
– luz caindo dos porquês.
Semas cegos, o nosso,
o torno, tua lágrima
sobre mim sob mim,
unicamente: os vãos vãos,
a escura cítrica forma.
Aprisionas o mais
na cripta-entre da razão,
fostes eu, aqui de tudo
que agora é mar: és mar.
Retecemos tua porcelana
amanhã, terias signo.
II.
Trazidos com caules de rosa,
nas mãos
– vertias o sangue,
espinho-à-espinho.
Exterioras: per-
doado aos limiares,
face-a-face,
enterrado por formigas.
*
Areia e noite, úmidas,
obra líquida
– inaudível.
Um antes, sobre ti
enterrada –
oscilas
teu espectro.
Fora, um íntimo eu-outro
acolhias,
botões vazios,
rosa e sangue não havia.
*
Com tal, éramos
o primeiro vinho, como amigos,
estavas
no fantasma do vinho.
Digladiavas outro orbe,
dentro, tuas mãos,
caules e botões:
uns
manchados, não necessitas,
uma vez mais,
outra mancha:
eras
na escritura.
*
Mas o outono,
este de galhos iracundos,
este que enuncia,
este, sempre gasto, senhor das cinzas,
súbito adormeceu.
Nossos olhos pranteavam
ainda os mesmos
– e para as centenas de sépalas
sem o sol do mundo,
sem a terra e o meio-dia subterrâneo,
ano após ano, o abrir cinza
do outono
guardava-me noutro abril.
*
Uma opção, e mais que isto
o naufrágio,
enfim, ocre das sentenças:
de que traduz línguas unidas,
fenômeno mudo.
Tuas orquídeas, então, sorririam
outra vez,
voltas da vez.
Cegos como omoplatas
na seda negra,
nomeávamos:
outonopaco.
III.
Um calor do sombrio,
o ar adeja distâncias,
um aroma é a mulher
nua segurando a água.
ela guarda dentro
secreções do ouriço,
a cama de lazúli
sobre a pele celestial.
um oásis oco dorme
o celofane das miragens,
nós o mergulhamos
nossos dentes de luz.
a carícia da sombra
me reveste de oceano,
um caleidoscópio dervixe
interdiz ainda o é.
a cera de ensolar
um sol é um sol
nu no escuro ainda,
não se vê o sol. |