JOSÉ WANDERSON LIMA TORRES
Eis a ponte, umbral carcomido - sonho
onde descansou-se o asco do outono.
Agora, ida a raiz, voga a asa lívida
do Acaso - a sanha e o caos dilatam a
malha-breu de medos na margem dos
micro-céus - não resta istmo intacto dentro
deste oco - e um deus de costas descasca
uma arenga áspera, um balé de pedras
***
Asco à arte de Pluto, suturador
infruto,arauto de curvas e escuros.
Asco à arte inepta de móbiles,
infantes feros, desnectando a geo-
metria paralítica dos dias.
Asco à fluidez de Heráclito e sua
algaravia íngreme - asco à sarna
incansável de Saturno, o Surdo.
***
Desdobra-se dos olhos a agonia
numa fé lucífera de ler o Acaso -
dados, móbiles e cartas de baralhos
dilatam a liturgia do relógio -
dissolvem-se os ponteiros, planta-se
o Ímpio Escaleno - e o mundo se banha
em cimento e agonia - e não se lavam
os olhos que explodem ASSIMETRIA.
***
SOLIDÃO
No galope da anta aloprada
ao lar de Caronte inda aquém
nucas ornadas de sal.
No galope da anta aloprada
aquém donde o Hades se planta
conas carentes de sol.
No galope da anta aloprada
das sendas de Cérbero aquém
lepra nos cílios de Alguém.
***
o acaso dança em meus dentes
quando o procuro entre os dedos.
tece teias na minha cara
sem alvará dos meus olhos.
sigo-o: sopra uma flor.
contemplo-a: com lagarta.
perquiro-a: colar de pérola
***
A Álvaro Pacheco
O sonho dos cavalos selvagens:
entoar loas ao além-campo.
Capim - eis a transcendência
destas bestas, o divino esforço
dessas pseudo-corsas . Sem asco
movem cascos em busca de bosta:
relincham loas à miopia e
céleres se afastam de sarças:
em não-ousar celebram seus dias.
Jamais a ojeriza ao ajoujo.
Jamais o mundo além do muro,
Jamais o mar e sua aspereza: a
poça de lama,sim, açude enfer-
mo: ermo e erva- capim capim!
***
tigre nu, rei devorado -
rimas e ruínas a reinar
num mar : linguagem.
tigre nu, rei devorado -
campânulas plantadas
na luz do nome.
tigre nu, rei devorado -
chicote sujo de arenga
limpo com chuva de lâminas.
tigre nu, rei devorado -
o medo será sêmen,
o sangue será verbo.