ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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KARINA JUCÁ

 


OÁSIS
 

Do lago coloidal
outro olho do deserto
espelho líquido
( isso quer dizer que somos em mim
eu sou tu
ou o mergulho, inefável...)
No teu olho quero ver outra Imagem
e não o meu reflexo
ele que me furta todo conhecimento.   

O olho, espelho
de translucidez cega
lago de vidro
lago escuro
que se furta o seu
próprio segredo 

Pois, náufragos
do aquário para as margens
olhar ao redor,
o teu rosto,
onde procuro o mundo inteiro.
 

O CAMINHO

Luz prismada de um único feixe
Voz crispada pelo discurso
O transcurso dos peixes da represa ao norte
As torres incendiadas em silencio.


MIRAGEM nº 2: MÚSICA DAS CONCHAS

A mão que te estendi, em concha
agora recobre o rosto, depois ouvido
olvido eco para alhures.
ou apenas rochas lisas de correnteza
e o rebojo macio para os seus cursos. 

O som das correntezas
a Outra vida
ou a própria vida, houve dar. 

Atos dissipados á minha revelia
Nas mãos a correnteza, a rocha.
E no veio maior, tu a lias
Palmas, montes que tiveram água
Emersas pedras, pomes como toalhas secas
(a língua é uma toalha molhada)
E as rochas lisas de correnteza...

A mão que te estendi, deslisa
esconde o teu olho para o deserto que ainda brilha. 

Agora, vento para um rosto de areia
Essa minha mão diz :

- Musica das conchas está sempre guardada
- O que é verdadeiro, existe.

 

TOPOLOGIA SUBMERSA 

Ao sul do corpo
Ao sul das horas
Minha mão espalmada, passa no papel
A pele, pálida.
Lisos, destoam do pensamento
Oposto que se insurge,
insurreto
Redundante e crespo e postulado
Fluxo, que te procurasse...
Ao verbo imperfeito

*

  

Karina Jucá graduou-se em Letras (Universidade da Amazônia) com trabalho de conclusão de curso na forma de ensaios sobre a obra do escritor Vicente Franz  Cecim, sob o tema: "Ó Serdespanto. Vicente Franz Cecim e a narrativa ontológica".  Pós-graduada (UEPA) em Literatura, com monografia sobre as intertextualidades e confluências entre o cinema (década de 60) e a literatura cecinianos. Atualmente finaliza o seu primeiro livro, Topologia Submersa. É coordenadora do Núcleo de Projetos da Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa/ Rede Cultura). Além de poeta, é professora, ensaísta, roteirista e produtora cultural independente.

*

 

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[REVISTA ZUNÁI- ANO III - Edição XII - MAIO 2007 ]