ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

LAU SIQUEIRA

 

 

circunstância


o poema
é sempre um espetáculo
um pouco mais denso

vem de um tempo
longino
onde a memória perdia
o nome das coisas

e as pessoas eram
montarias do futuro


poeta interino


todo dia substituo um
cidadão de jeans san
dálias e cabelos gris
por um martelo e prego
sílabas no
branco da folha branca

cada pan cada
uma plêiade de me
mória e lixo

todo dia
revelo o bêbado ocioso
que nada
nada
nada
e sempre é um rosto e
um nome ensacado em
minha pele

(...)


figos maduros

ai de mim
com essa figueira crescendo dentro
sem saber direito o momento da poda
ou da colheita

ai de mim
que não entendo de árvores que não com
preendo direito o que elas dizem o que fa
zem como agem na hora do corte e
depois
na transcendência das figueiras

nem sei se a casca
grossa no caule leitoso
com o tempo terá uma
fibra impermeável

ai de mim
que percorro a mansidão invisível
como um galo cumprindo o ofício
das manhãs


*

Lau Siqueira nasceu em Jaguarão (RS) em 1957, mas reside em João Pessoa (PB). Publicou os livros O Guardador de Sorrisos (1988), O Comício das Veias, este em parceria com a contista Joana Belarmino (1993) e Sem Meias Palavras (2002).

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2005 ]