REAPARECE: FANTASMA
Words,
words, words
Hamlet, fique longe disso,
não há mais lugar para
seu palavreado. Apenas
uma oca vontade de falar
(palavra vala-comum,
a que não vale o que pesa).
Nada mais significa, veja,
porque se ouve o que não
se fixa, o mais sem menos,
o mais excessivo, adiposo
verbo-celulite, abagulhado,
que não se move ou faz regime.
O muito trololó, Hamlet,
enlouquece e é um despiste:
É dizer não com muitos sins
onde não há, e se acaso houver
desconfia sempre da expressão:
- diz sempre não. Um não sim.
A FORMA DE UMA IDÉIA
Então chegando ao topo, sem horizonte
nem idéia de paisagem, só
aragem e uma e outra lembrança, ressequidas.
Fragmentos de uma ex-árvore.
Aqui e ali migalhas
e mais adiante casas.
E estradas e carros
e um lago.
Lá embaixo (é noite), as
luzes dos prédios conflagram
interrogatórios. É noite.
E fica cada vez mais difícil
descer
pelas escadas.
Aqui é barroco e ali,
tão calmo, decerto
é mais bucólico. Aparências
de contornos, aparições
do possível - ribanceiras
subindo e descendo,
mais isto que aquilo.
Porque
o real está guardado no fundo,
lá onde nem mais o fundo se divisa.
DE UM DIÁLOGO PARTICULAR
"Você
diz que não, mas
as poucas coisas que achamos
poderiam ser jogadas
bem debaixo da terra,
no limite do impalpável:
no meio-limite,
no entre vivo e inorgânico
em seu caráter de lixão -
restos de comida, jornais,
seringas, plásticos, vidros.
Tudo ali oxidado,
ali capitulado."
(...)
"E há um pormenor,
um quase-nada feito de alegria
sem desabamentos (essa outra
forma de existir, longe de
origens e urinóis):
vê aquela água que
desce, refluindo,
e se perde num ponto
distante deste mapa? norte-sul,
leste-oeste - qualquer lado
será sempre o outro mesmo lado
será sempre a outra mesma vida."
RECLAME
Esquálido e patético,
mira o fim:
o lodo é quente,
o epitáfio está
por ser escrito.