DISFARCE
dentro um felino
compacta anima mundi
harmonia com os degraus
suspira o melhor visita o interior
dos projetos
diversa vida
e poesia em reunião.
entranhas no prelo
e perduram as garras.
tem o teu papel as lanternas
ave-marias arcaicas, os casarões coloniais.
rastros no âmbar
indomável
e os rios de preces páginas
feito sementes
o fogo também rastro
e repertório
pai do instinto
evoca as vilas e calçadas
redoma
ou coração letrado
no barro da pelagem. a fúria dos tons.
incêndio em cada ventre dos
oceanos
CRIAÇÃO
depois do início eram os olhos
multiplica-se coxas de flores in vitro
perfume almodovariano
alastra da íris-punho ao ventre polissêmico
sem ventilação tal qual casarão da carne durante o
abraço das heras vindas
sobre o tecido esponjoso programa-se a horta oceana
espuma a partir dum esboço lírico, este terreno dançado
e refém da erva
geração bethânia
fratura imposta na raíz do espasmo,
no carro triunfal destila a Mátria reluzida a pólen
um cabaré cítrico
à ferrugem luz de velas
a vida é mel e fruta no talho da argila
faz-se o jardim
matiz e verso. Golem.
PERGUNTARAM
perguntaram dos rituais
a única resposta possível
na cor das horas
é o poema.
OU OS MEANDROS
ver os verbos
enfeitiçar
caminho propício a um olhar mais longo
ou os meandros
manter
os deuses cativos
rezar - aos espíritos num livramento de horas
feminilizar o chão
e homens
somados à
costura dos tempos na derme
do léxico
assimilado no vento
perdoar
perder e
desladrilhar a tarde
aquela das ruas
nuas
talvez cruas
sobre alguma chuva.
bifurcar
-se nos vãos
da palavra o sexo,
o quadro
a ruptura do medo
então sob alguma navalha
tecer os galos
ou os meandros
o amanhã a quem o sabe.
UM RITO FLORIFORME
o caule entre as palmas
das mãos no atrito que consterna
as pétalas
no movimento o giro do mundo-
corpo
impávidas
até o mar surgir
ejaculado
espiral em câmera lenta
inundando sem volta o
jardim
das cruezas
MOIRA
roda a vida
por
um
fio
encerado de infâmia
nó na jugular
não
mais
que
bem
dado
por um cego
ser
de
pecado
.
corta
e sangra
o vazio
SOBRE UM ELEMENTAL
cria uma cobra de alecrim
solta no
raio da língua
desmorre-se.
vem ver o ramo tatuado
rente ao muro do ventre.
gimnospernas abertas
mas só vê a carcaça central de açúcar
e lava
a lâmpada réptil desvirtua os
olhos do ferrão
ósculo
e sorriem dos
pistilos.
vértebra e miolo à luz
da arcada.
APOFENIA PARA LEIGOS
ao cigano dos verbetes
a imagem e o conceito
cada um cada um
um portão, portanto
ao matadouro [dos coelhos e azuis plumados no ouro]
e ou
ao paraíso [das ninfas bromélias mosaicos em transe]
não necessariamente nessa
qualquer outra ordem
a vertigem? uma prática de vento
plural da retina. as veias de seiva.
TÍTULO
o vento verso se constroi nas horas
do astro rajando as tintas do corpo
tudo culpa dos bulbos
mênades vegetais na maciez azul dia
configurando as células vitrais de espessura láctea
musas parindo rosas
fazendo trilhos
[a divindade, espécie em gozo]
das trepadeiras coração
o que se planta dessa vida é
o que se deseja
a cidade é selva e epílogo
o grifo no lado esquerdo do seio
féretro o caroço de futuro
curtido no vinho hermético das folhagens
queimadura sob cérebro
tal Clarice de água
viva
algumas teorias dissecadas
sem nervura e breves
biópsia de chuva
ao contrário das tardes
UM FAUSTO
quanta vantagem
sobre o erro
tem o demônio
da certeza
no rolar do precipício
em carne |