LEONARDO MORAIS
BAILE
No céu
da tua boca
minha língua
cega em baile
o gosto enseja
estrelas
via-láctea
em braile
NAU FRÁGIL
folha solta
enxurrada
rua abaixo
na tarde
sem porto
sob a chuva
nau
frágil
A LÍNGUA
a língua
submarina
aprofun
dando-se
nas tuas
partes
íntima
(s)
SAMBA NOIR
chuva
tamborilando
no telhado:
meu samba favorito
CRONODRAMA
ao bater do sino
erguer os cílios
abrir os olhos
com esforço hercúleo
esquecer os sonhos
banir remelas
renegar a cama
apaziguar a sanha
cair na vida
como se fosse fácil
fugir dos pijamas
sempre acrobático
* * *
há
tempos
me afiro
em silên
cios
sem pro
ferir
qualquer
ínfimo
sus
piro
à noite
***
na madrugada surda
nem mesmo a batida
de um samba
surto
um refrão de breu
do pulso ao coração
soluço
na escuridão
NA BOCA, UMA SAVANA
sob o céu
da boca
um cemitério
de elefantes
despontando
em marfim
apodrecido
outrora
dentes reluzentes
bem quistos
***
aos trinta
tudo
entupindo
o ralo
pentelhos
& cabelos
cada vez
mais raros
*
Leonardo Morais é paulistano uísque paraguaio criado desde quase sempre em belourizonte onde é proletário e poeta (não necessariamente nessa ordem). Em 2008, editou e disponibilizou gratuitamente na internet o poemário intitulado"causa & defeito". Prepara atualmente um novo volume de poemas, também autorais, chamado “Colecionando Fraturas”. Escreve irregularmente no blog "Poesia Crônica". contato: leodemorais@gmail.com. |