ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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LEONEL DELALANA JÚNIOR

 

 

 

 

APOCALÍPTICOS EM 7 TEMPOS PARA JOÃO DA ILHA DE PATMOS

 

À IGREJA DE ÉFESO

 

catacumba!

jazigo jazz em tumba cambaleante

cambalachos de meu brasilirismo errante

 

alvas algas altas

altas algazarras

vulvas em solo sagrado

volvendo girando sobre si em si e para dentro de si

lá se foi mais uma canção

lençóis encharcados

encharques caracóis bainhas espadas em riste

no momento da investida

desnudadas e peladas bundas peludas

salivas selvas salvas e um orifício em que o nome é de puro requinte

 

pura elegância: essa infinita agulha que me atravessa

pura elegância: a cicatriz que humaniza o mito

 

o bilhete cínico de loteria

sua promessa de felicidade

 

 

À IGREJA DE ESMIRNA

 

para josé o que importa nesse exato momento é a lápide da mãe

de maria

& a escolha da escola de esmeralda

 

 

À IGREJA DE PÉRGAMO

 

terra árida verde dourada azul alvas

flores róseas vermelhas groselhas

 

margaridas sob viadutos em céu aberto

urina-se em volta do mesmo fogo onde

umbigos desfilam anorgânicos

 

ciranda cirrada em cima do cume

acúmulo

mãos sujas e sorrisos cordiais

 

não existe sinônimo para o verbo chorar

existe sim

um choro sem chiado em latim

 

& maná em abundância

 

À IGREJA DE TIATIRA

 

choro em todas as línguas

oro em línguas

enquanto

maria me angustia com sua leitura lenta e dolorida de drummond:

morte no avião

 

À IGREJA DE SARDES

 

nasce uma flor da carne podre de um cão

canta um pássaro ao longe

os olhos da garota brilham

de alguma maneira o fundamental ainda resiste

 

em sabor já esquecido coagulado endurecido

nas veias em pó dos seios de minha mãe

 

À IGREJA DE FILADÉLFIA

 

a socialite branca dança entre pretos na avenida

sua carne branca sua por um falo preto

sua bílis sorri & seu falo preto é mais preto que o falo preto do preto:

café da manhã servido por mãos pretas

 

À IGREJA DE LAODICÉIA

 

entre seus hiatos: namoro riso e sexo muito sexo

 

enquanto isso os demônios brincam de ciranda e deus desata as fitinhas do senhor do bom fim

 

ateu herege e ímpio

esqueço das promessas pagas em aparecida

 

o maldito aneurisma-bomba explode em sua cabeça

 

                                 cacete!

                                                        eu só queria silêncio um pouco de paz

não não não

não era exatamente para mim.

 

 

 

*

 

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