ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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LÍGIA DABUL



PASSO DE EMBARCADIÇO

um pouco de calma é preciso
a nave ir devagar

um palmo
de mar
muitíssimo

se no navio

flutuam
premissa
destino

tudo canto de sereia
melhor ir devagar


O AMOR TEM LIMITE

o amor tem limite
depois é
pouco

e tudo
para não
ser

nem isso

acabou o tempo
o perigo
querer

a conta feita
paga lida
amor


TRAÇANTES

sinta meu
abraço pesado
de zelo

um susto e faço
o apelo: fica
porque

uma noite toda
é muito e

estrelas voam
cravam o céu sem
mais


AURORA

esteira do cansaço
bruma

da manhã longa
demora

não durmo
não desperto
sem

um firmamento

o céu belo
         brusco

                  instante


NOVA

agora vertida
em fase
da lua

que outro lado
como assim
muitas

se a lua é
sempre
uma

e na bruma
da manhã
ainda

mais


COMPLETA

abri a caixa
sem a chave de fenda

e foi na flor


- quem quiser
se eu quiser
pode beijar


Para Eugenia e Ana Marcia


*


Lígia Dabul, poeta e antropóloga carioca, é professora na Universidade Federal Fluminense e faz pesquisas em antropologia da arte. É autora do livro de poemas Som (Bem-te-vi, 2005) e do ensaio Um percurso da pintura: a produção de identidades de artista (Eduff, 2001).

*

 

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