LUÍS SERGUILHA
TEXTO 1
A
nodosidade sónica da cidade limítrofe é flanqueada geograficamente
pela
salsa-dos-pântanos
onde a
mecânica das especiarias liberta as acrobacias do fogo de
artificio
sobre
os cronómetros das crises alérgicas
Os
cineastas fundadores das espreguiçadeiras de néons
isolam as bandeiras das povoações
nos
bastidores mediterrânicos das colheitas
onde as escaladas da coreógrafa coleccionam as dramaturgias
das chuvas
que electrificam a basculante da claridade
Os mosaicos-anémonas dos hóspedes desintegram-se nas sonoridades
das máscaras equatoriais
parecem canais de irrigação aos solavancos
entre
os adereços indígenas
que radiografam os sismógrafos das fertilizações das comédias
A desdobragem
óptica da cronologia estilhaça a quadrícula dos miradouros
e os comboios gráficos computorizam os atlas dos antologiadores
como se encadeassem copiosamente
as colisões do circo botânico
onde os báculos hidromecânicos aperfeiçoam
o borrifo ignescente do mineral angulómetro
sobre as oficinas das homenagens das trompetas
que
urdem as ataduras do sul do amendoal dos pulmões
As fitas
dos vídeos arqueiam na marginalidade cerâmica dos emissários
e o resgatamento cartográfico do fotojornalista é liminarmente
entoado
entre as papoilas dos tenores
onde as teclas equestres das partituras julgam as gralhas
das montanhas russas
que as malas das alegorias
colonizaram
sobre a nidificação dos ícones do elenco das paleontólogas
TEXTO
2
As larvas geométricas dos areais compartilham estritamente
a decoração dos lenhos-microfones
para farpearem os diamantes seculares das ameixas
como as cismas dos sapos a estruturarem as erupções oolíticas
entre
as bússolas dinâmicas dos subsolos
A urbanidade das lagartas dinamitadas alastra a precisão
da graxa dos corvos
encurralada transitoriamente
nas direcções das capas picadoras de azulejos
Este
xaile de obeliscos vegetais concentra as aranhas da tuna
solar
sobre as esquinas intangíveis dos gorjeios sinfónicos
como uma estadia do incêndio a representar
a prodigalidade da incisão da catástrofe
que
transmuta as favas inauguradoras
do sobressalto da luz
As parcelas amareladas do salvo-conduto terrestre destacam
a hibernação
dos pessegueiros magnéticos
entre as lojas detentoras de cinematógrafos provisórios
Os flancos dos suores arrítmicos dos astronómicos caravanistas
são
burilados
pelos mapas
propagadores de açaimes
que identificam as cavidades dos carris artesanais
e
as placentas corrosivas das embarcações são seleccionadas
pelos relógios dos enxames
para transformarem os suspensórios dos apeadeiros
em
travessias de sanhas electrocutadas
Ambiguamente
a sucessão dos interstícios das chocadeiras oscila
entre os peitoris das estâncias-cárceres e os alicerces
asmáticos
das chancelarias
onde as queixadas nómadas dos aguaceiros
parecem os retratos invertebrados das piranhas
a
consolarem a área dos peditórios
TEXTO 3
As
masmorras minerais recortam os vencedores dos bilhares glandulares
superiormente dissimulados
na exaltação das praxes-bidões de sífilis
onde um exército de detergentes-galgos triturados
pelos dédalos viscerais dos cobradores de abafos fotográficos
explicam a ancestralidade dos exílios dos chocalheiros
como
os telefones das cascavéis a calafetarem
as detonações gangrenadas das avelãs
sobre as escalas das tábuas dissecadas
pelas
assembleias serpenteantes dos melros atlânticos
As cortinas embaladoras de percentagens e de continências
rígidas
aprovam as vírgulas dos tendões-barbitúricos
que domesticam os pára-raios das pedrarias da circunspecção
e os habitantes espontâneos dos aeroportos desalojam
os batalhadores de néons
para carregarem o labirinto das saias avarentas
até
ao quintal ascendente dos eléctricos da monstruosidade
onde as patas dos respiradouros dos dilúvios químicos
fecham
provisoriamente
as dobraduras perfeitas dos desfiladeiros indomáveis
As porcelanas
desveladas roçam sabiamente
no cadastro imarcescível dos dedais
e as lojas dos uivos asmáticos circunscrevem
os infractores orgásticos dos códigos
que antecipam o equilíbrio dos açucareiros desconhecidos
Os perfis
hidrófobos continuam a incendiar os sorvos ilegíveis
das rabecas espongiformes
e as ruas envenenam-se de biografias glaciares
para suplementarem as crostas fluorescentes
que colidem nos voos rasantes dos pássaros-solários
TEXTO
4
Os
concursos dos casamentos segregam laboriosamente
as coberturas da circunvolução
onde os bicos das guloseimas esgrimam os parasitas
impermutáveis do mobiliário
Os engenhos da nervura da linguagem petrifica-se
nas regiões criadoras
de tendas marítimas
onde os competidores temáticos incandescem o mostruário
das baleias
geométricas
e a aguardente-candelabro dos serões pontua os reflexos
invasivos
das compotas metropolitanas
para apregoar os mercados caleidoscópios das silhuetas
que gravitam inesperadamente
sobre os sachos asmáticos das madrugadas
As dobraduras dos insectos torneiam as prestações das ampolas
cheias de olfactos convulsos e de éteres reduzidos às colagens
das estratégias loucas
que
dissolvem verticalmente
os guizos esculturais dos laboratórios
sobre os cios mutilados dos rebanhos
como
um risco da cereja planadora a comprometer-se
no sudário do pisco-ferreiro citadino
Civicamente os soalhos das traseiras contemporâneas emolduram
os mineiros
dos dicionários das mensagens
como
estações cardadas a fazerem vassalagem
às iniciativas-tendeiras dos turistas
Os pássaros-vibratórios
da palmeira-das-igrejas curvam
sobre
o bolor iluminador das persianas
para amortalharem as trinchas da charcutaria das assembleias
que alteram os barbitúricos dos terraços
possivelmente
marginados
pelos perfis sôfregos dos telescópios galopantes
e os correios dos peixes parecem gravatas de gerânios
purificados
anualmente
pelas ebulições infecundas dos pontos de mira
TEXTO
5
Os
resguardos paisagísticos dos aeroplanos desdobram-se
para comentarem sucessivamente
o apuramento das coreografias dos banhistas
que tentam orquestrar a maquilhagem da cópula
entre
os dominós das barracas lunares
onde as fermentações das canas do carnaval acelera
o enquadramento das cadências das anémonas faladoras
para comprimir os formatos dos portais crepusculares
que triunfam nas travessias menoríticas dos armazéns milenares
dizem
que é uma auscultação da banda desenhada
sobre as agendas ondulantes da plateia
dizem que é a colação dos hiatos no absinto espiriforme
dos corpos
aqui
as reviravoltas atléticas das rotundas esmerilam
as contaminações das batedoras dos ócios
como pescadores à linha a estagnarem o diafragma solar
sobre os ensinamentos dos fósseis da laguna
A servidão
dos chocalhos do sol intervala a unção rectangular das rendeiras
onde
os anais metálicos das sombras rolam
entre os meridianos dos fertilizantes
para justificarem repentinamente
a aparição
do fingimento-réptil na sua maioridade
e os tijolos privilegiados do banho nocturno
alheiam-se dos objectos coarctados do laboratório ordenhador
que servem de soluções aos profundíssimos bolsos da iconografia
como gerações de grilos a imolarem os itinerários
dos estames abençoados
pelos arcos fantasmagóricos das hélices
Os terminais fosfatados das vigilâncias encenam
a inauguração das afinidades habitacionais
nas direcções da margaça-das-boticas
onde desembaciamento dos plintos holísticos organiza
as incisões milimétricas dos tálamos
que compõem as bruscas estrangulações dos telefones
TEXTO
6
O
criador-espião de almanaques retorna ao claustro dos embarcadouros
para orvalhar as gadanhas alucinadas dos tocadores
com a pólvora vocabular dos cardumes
onde
a tradução mineralizada da fogueira hiemal gorjeia
sobre os entalhes das forquilhas-áticas
e os frémitos dos peixes parecem os pilares
das
gengivas das ceifas marítimas
quando perseguem as toucas didácticas dos madrugadores dançarinos
que sobrevoam electricamente
as portinholas das gigantescas margens
Invariavelmente
os arames elegíacos do pente-do-mar
avolumam
os heterónimos
do rosto ciclónico
entre os vimes lunares dos aeroportos munidos de licores-passaportes
As faixas de sabonetes soluçam no contágio das rendas das
varejadoras perfiladas
e dobradas aceleradamente
sobre o cotão metaliforme dos malhadouros
das minerações exiladas
que alteram o escalonamento
das caixas-de-ar
como se fossem feixes gaguejados a desabarem na síntese
dos cavadores de fósseis
As rebentações
dos folículos terrestres ostentam
os
truques ambulatórios dos testemunhos solares
como as sentenças dos xistos a orquestrarem os minúsculos
impressores das hastes dos açudes
onde a exiguidade dos solavancos dos olhares-da-formiga-curandeira
desincorpora as nevroses das propagadoras de semáforos
TEXTO
7
Uma
maça de balizamentos atmosféricos infringe humildemente
o
montículo anual das sardaniscas
onde os ruídos apressados dos nervos exterminadores murcham
as nódoas
inimitáveis das charruas
que levantam temporariamente
os
perímetros dos framboeseiro solares
sobre a incubação dos circunlóquios dos auscultadores terrestres
As aguarelas
electrocutadas das borboletas arregaçam-se
sobre
as circuncisões das bóias lácteas
para constituírem os truques calafetados dos corações incomensuráveis
que ajustam a sanha dos espelhos das cisternas
aos
telefones atléticos das colmeias
onde o sincronismo do oxigénio das sementeiras garroteia
o executor de presságios do relâmpago
As figuras
dos estacionamentos dos vórtices são buriladas
pelos dicionários insufláveis das sombras
aqui os embalos vulcânicos dos seladores
pressentem
o despojamento da graxa dos embarcadouros
que inscrevem os aventais da genealogia
nas modulações tubiformes das súplicas nocturnas
e
a perscrutação gradativa da navalha das residências diversifica
os filamentos das turbulências
entre os subúrbios das campânulas das adivinhações
como uma espécie das vidraças a asfaltar a triagem
da hereditariedade
que funda os bastidores da sedução da praxe dunar
Sabiamente os relógios alquímicos dos pássaros tacteiam
a flamância triunfal dos vírus velocíssimos das bandeiras
que
estalam no bafo urgente dos artilheiros
onde
a independência das pigmentações dos trilhos
entrincheira as películas dos vitrais dos perfume
sobre a argamassa das cismas dos últimos planeadores
TEXTO
8
A
elegibilidade dos bofes embobina a sincronização do ópio
para galardoar a bulimia dos lacraus
que relacionam as cartografias dos herbários
com
os traços vasculhadores das ascendências
dos obeliscos vulcanizados
onde as anexações balsâmicas exaltam as arestas
radioactivas dos catálogos das verrugas condicionadas
onde os rasgões das clavículas atmosféricas rufam
sobre o desenfreamento das reentrâncias
Ciciam
os talos-estetoscópios das disparadoras de nectarinas
como os tímpanos das triangulações marítimas
a estancarem o oxigénio dianteiro dos cardumes transmigratórios
onde
os táxis das eclipses farejam as cascas
das roletas terrestres
que encaracolam as injecções da irascibilidade
sobre
os rompimentos cadenciados
dos chavelhos órficos das estevas
Os alisadores
de salamandras microscópicas reconstituem
as pranteadeiras das papoilas coreográficas
sobre o aperfeiçoamento universal das bigornas
onde
as prateleiras dos esmaltes antiquíssimos das histerias
demarcam os compositores de colgaduras insubordinadas
entre
os estremecimentos dos chifres rastejantes
aqui a fuligem das lantejoulas articula
o nervosismo dos pesquisadores
às bandarilhas aromatizadas dos especieiros
que listram cirurgicamente
as instruções dos bastidores pútridos das desforras citadinas
TEXTO
9
Os
guinchos da poalha das gravatas
a baba-lixa dos embaraços do ilusionismo
o xadrez das badanas
encurvadas da televisão
a minuciosidade da embraiagem dos atacadores
os
tubérculos-malas dos caranguejos
o gira-discos das bóias preceptoras
as seringas no entorpecimento
dos estafetas da gasolina
o charco da espiral da processionária
as canetas do éter alimentício
as lavagens das cordas das garatujas
os néons das silhuetas da processionária
o recrutamento dos biquinis nas estratégias dos regentes
de coelheiras
os frigoríficos das camuflagens das multidões
a adstringência dos hussardos
a lambugem das unhas bélicas
os
escombros das provisões das medulas
as tesouras
de enxofre nos tanques-madrinhas da processionária
Oh louco mobiliário devorador de inimagináveis comprimidos
Oh
asfixiador da tonelagem dos murmurantes polimentos
onde
as epidemias dos lumes arquitectaram
as torneiras obsequiosas dos titânicos restolhos
onde
os veleiros peganhentos blindam demoradamente
o algodão dos electrodomésticos das galáxias
aqui
as criaturas sulfurosas afunilam os germens da longevidade
sobre
as alforrias do arrependimento terrestre
esta
efusão de cassiopeias e de repastos fibrosos
entre as eclosões dos círios dos salteadores
estas
melancias piramidais a autorizarem a prosperidade
das minúsculas estratopausas
sobre os fluidos vacilantes dos insectos
estes
arquipélagos de ingredientes inalteráveis
pressagiam a espoliação dos bacilos das sonolências
que proporcionam os silos das dissidências portáteis
para emaranharem as subunidades costeiras
na hipófise embalsamada das naifas
como zeladores de epílogos a chafurdarem os gatilhos das
mimosas
nas
concertinas felinas da invisibilidade
*
Luís
Serguilha, poeta português, nasceu em Vila Nova de Famalicão,
em 1966. Publicou, entre outros livros de poesia, O périplo
do cacho, O outro, Embarcações, O externo
tatuado da visão e Lorosa'e boca de sândalo.