Enforcado
Chaos
Os ramos cortados − dos troncos
Ou o caos numa colher que vai à boca
Uma gota de um veneno que não mata
E tudo está ao contrário
O Sol quebra antes que a Noite pouse
Antes que se rompa a corda inteira
E a queda o arrebente
Ali não pousa nem mesmo
A coruja que pia, ao longe
Apocalipse
Pouse, abutre, sobre o nó.
Verte o verde pedra a pedra.
E (num uivo) o vento açoita a alma.
A loucura pousa ali.
Árvore sem folhas − onde pende um tronco.
Árvore da Vida − molhada de sangue.
Contra o céu − a cabeça − no fundo da terra.
Sol mergulhado na teia materna: inferno e raízes.
E a fruta vermelha do Fogo
Queima na Árvore do Mundo.
Enquanto a forma vegetal
consome a claridade em labaredas.
Quinze, O Sol
Fio de Ouro em Ouroboros
Orvalho − Novelo no vento
Pedra Falha − Ovo
Olho rubro da cobra
Ou o frio de Mercúrio
Noite vívida − borralho
O que molha a pele-casca
O sangue-veneno
Vidro opaco − o que preteja
Pestilência amarela
No brilho da água
O velho coagula num cálice
E o que solve neste líquido
Resolve a equação dos contrários
Ouroboros em Fio de Ouro
Espalha o Vermelho-Navalha
Na cabeça − o Sal da Vida
E − na cauda − o Fio de Prata
A Torre
No forno − enxofre & mercúrio
E a Lua morde o Sol
E o Sol morde a Lua
Ali − o nigredo líquido
Veneno − sangue premido
Contra a taça do Universo
O Sol & a Lua − em ágata
Corascene & o cão armênio
Duas faces do mesmo corpo
Até que no ventre do vento
Forme-se a cauda de um pássaro
A Estrela
Aqui, sobra espaço: onde a luz
Soçobra − então lança
Do escuro − a Pedra de Sol
O Julgamento
O Lobo salta num raio de Sol.
E molha − com visgo amarelo
A superfície da rã.
Escamas de Ouroboros se desprendem.
O musgo cobre a pedra.
O orvalho molha mil folhas
E há galhos quebrados.
Esvaem no ar
Olores de estrelas em queda.
Enrolam-se em nuvens negras
& sujam o espaço.
Os abutres se amontoam
Em dúzias de árvores.
E no ventre do vento
Destila-se o veneno dos Contrários.
A degradação (compacta)
Espalha-se em doze quadros.
Os discípulos perdem a montanha
Os astros desviaram-se.
O petróleo − de enxofre e mercúrio
Agora − torna-se claro.
Num vislumbre que logo fenece.
Exatamente como rastros.
O Mundo. O Destino. O Tempo
Afogam-se num cálice.
As formas mais fixas
Tornam-se, então, voláteis.
No caldo negro (Noite Líquida):
O que mergulha − num salto.
A Lava (Língua Ígnea)
Bebe a História − traço a traço.
E a centelha estoura no ar
& estimula o voo do Pássaro.
Num rasgo. Águia Azul.
O lampejo assusta o Retrátil.
A manhã então apodrece
Num eclipse extraordinário.
Então − do ventre do vento
Escapam mulheres & almas.
Cintila a água limpa
no Céu & no fundo do cálice.
Acende-se o Arco-Íris
ancorado em ambiguidades.
Ouroboros inspira a Mancha
& expira um Dia Claro.
alto-mar
e olho a cidade com lenços negros arrancados das casas, roberta ferraz
nos orifícios onde a maquete se torna susto
a fuga árida dos filhos, o ímpeto das flores
nascidas nas dobras dos planos, na órbita dos corpos crus
a mágoa pura, violenta, calcinada – rosas roxas, de hematoma
e água fria.
o berro tomba
nos murros contra as nádegas.
e os inocentes
pedem calma.
eles querem o teu bem. te querem
calma.
com um sorriso pregado na casa. a língua afiada. um ótimo
senso de humor. háháhá. e os defuntos não fedem
nas bordas do dia.
urubus limpam a cena – sem ossos. ou tripas.
e as mães
contam as lágrimas de deus
num rosário.
dívida
é claro que as bijuterias
custam mais caro do que as joias
ouroboros num brinco é de graça
ártemis num bracelete
e as parcas
já pagou a língua? |