ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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MARCELO DINIZ

 

 

1

 

A  pedra além, pedaço de,

como  deve ser todo achado,

pois,  do todo, o pedaço é

o  que mais descreve o que

o  todo não conta, a própria

surpresa,  a suspeita de ser

além,  o que o todo jamais

seria,  pois, do contrário,

não  seria todo - máquina

eterna,  para nós, para sempre

tardia  - pedra mais que pedra,

pedaço,  como retina fatigada,

a  vida inteira rutilando,

repetida  cisma, como caminho,  

rastro,  posterior, no vasto.

 

2

 

Não,  nenhuma inteligência, -

se  lesma rutilasse rastro,

a  pedra é esquecimento de lesma;

se  alguma carícia, a pedra é

o  contrário da mão que acredita

tocar  a superfície irrecíproca

desta  pedra que a ignora -

a  pedra é - se tanto, neste âmago,

se  âmago se diga do que é

apenas  a paciência aglomerada

do  presente consigo mesmo -

sem  memória e sem segredo.

 

3

 

Esta  é outra pedra e para sempre

outra,  como se fosse do outro

lado,  sempre, que somente esta

pedra  fosse pedra, como se cada

frase  que a descrevesse, despisse

 

a  pedra de ser o que quer que fosse

que  pedra não fosse - doença,

a  metafísica do nome; metafísica,

o  nome da doença do nome; como

se  para ver a pedra, a necessidade

 

de  sentir o cheiro que a pedra não

exala;  para ser, a necessidade de

fingir  a necessidade que nenhuma

pedra  conhece - sim, esta pedra é

outra  e é só do outro lado que esta

pedra,  sabe-se lá como, desescrita, é.

 

4

 

Esta  pedra

agora  é grão,

tão  grão que,

tivesse  olhos,

  o pensamento

enxergaria; 

e,  como não,

este  grão é

idéia  que só

o  pó do próprio

pensamento, 

de  outros grãos,

agregaria, 

que,  ainda mais

grão,  pensada

quase  nem seria;

seria,  simples,

estado  bruto e

gratuito  cuja

ínfima  poeira,

para  próprio

transtorno  do

pensamento, 

com  o próprio

coincidiria.

*

 

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