ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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MARCOS RAMOS

 

 

 

 

[fragmento 1]


sobre a palavra
que escapa dos olhos
sufocados pelo teto

um corpo aterrado
no conforto da ciência
pergunta em silêncio
pelo próximo fôlego

quantas horas
até a culpa
dar tecido à penumbra
do poema (?)



***



[fragmento 2]


trazer do barro
cada força combalida
pedaços esguios
de chão

azar que a pedra 
tratou 
de podar

verbo
fosco

corpo 
fulcral 
sobrenome da palavra
colidir



***



[fragmento 3]


tudo será difícil 
quando 
sobreviver à família 

vingar 
um sopro de intensa claridade 
é lúcido. tocar o céu 
da boca, superar 
a superficialidade 
do lábio fere



***



[fragmento 4]


a palavra
não substrato
mas pulsação

(divergente
íngreme)

não total:
suma, oriunda.

o movimento é o poeta
para o corpo
loquaz(?)



***



[fragmento 5]


quase nunca 
optamos
por uma queda
abissal

mas assim que mantivermos
os pés livres,
o corpo
(ressequido)
desintegrará
no chão:

o olhar que não se distrai
será aterrado,
o olhar nunca mais horizontal
penetrará o solo,
a terra,
a dor.



***



[fragmento 6]


na pele 
tatuavam as explicações
do corpo:

não esquecer a fome.



***



[fragmento 7]


o corpo não quer
desvendar
o fundamental
da metáfora

- desolhar
o enigma
como segredo
para restar
no rosto
outra voz;

experimentar
no ante-corpo
a miséria
do que permanece
símbolo.

o corpo só quer
desvendar
um fundamental
da metáfora:

atravessar a pedra
com o dedo
que se escreve vida.



***



[fragmento 8]


o movimento pela profunda 
particularidade 
peso insolúvel, 

a dor inextinguível do todo- 
mundo 
o corpo contemporâneo, 
outro ainda-eu. 

(a escrita como perder-se 
para o fulgor de outra voz)

 

 

*

 

Marcos Ramos nasceu em 1988, vive em Vitória, Espírito Santo; é poeta, pesquisador e editor da Água da Palavra – Revista de Literatura e Teorias (www.aguadapalavra.com).

*

 

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