[fragmento 1]
sobre a palavra
que escapa dos olhos
sufocados pelo teto
um corpo aterrado
no conforto da ciência
pergunta em silêncio
pelo próximo fôlego
quantas horas
até a culpa
dar tecido à penumbra
do poema (?)
***
[fragmento 2]
trazer do barro
cada força combalida
pedaços esguios
de chão
azar que a pedra
tratou
de podar
verbo
fosco
corpo
fulcral
sobrenome da palavra
colidir
***
[fragmento 3]
tudo será difícil
quando
sobreviver à família
vingar
um sopro de intensa claridade
é lúcido. tocar o céu
da boca, superar
a superficialidade
do lábio fere
***
[fragmento 4]
a palavra
não substrato
mas pulsação
(divergente
íngreme)
não total:
suma, oriunda.
o movimento é o poeta
para o corpo
loquaz(?)
***
[fragmento 5]
quase nunca
optamos
por uma queda
abissal
mas assim que mantivermos
os pés livres,
o corpo
(ressequido)
desintegrará
no chão:
o olhar que não se distrai
será aterrado,
o olhar nunca mais horizontal
penetrará o solo,
a terra,
a dor.
***
[fragmento 6]
na pele
tatuavam as explicações
do corpo:
não esquecer a fome.
***
[fragmento 7]
o corpo não quer
desvendar
o fundamental
da metáfora
- desolhar
o enigma
como segredo
para restar
no rosto
outra voz;
experimentar
no ante-corpo
a miséria
do que permanece
símbolo.
o corpo só quer
desvendar
um fundamental
da metáfora:
atravessar a pedra
com o dedo
que se escreve vida.
***
[fragmento 8]
o movimento pela profunda
particularidade
peso insolúvel,
a dor inextinguível do todo-
mundo
o corpo contemporâneo,
outro ainda-eu.
(a escrita como perder-se
para o fulgor de outra voz) |