MAX MARTINS
O CALDEIRÃO
Aos sessenta anos-sonhos de tua vida (portas
que se abrem e fecham
fecham e abrem
carcomidas)
ferve
a gordura e as unhas das palavras
seu licor umbroso, teus remorsos-pêlos
Ferve
e entorna o caldo, quebra o caldeirão
e enterra
teu faisão de jade do futuro
teu mavioso osso do passado
Agora que a madeira e o fogo de novo se combinam
e o inimigo nº 1 já não te enxerga
ou vai-se embora
varre a tua cabana e expõe ao sol tua língua
tua esperança tíbia
o tigre da Coréia da parede
É lícito tomar agora a concubina
E despentear na cama a lua escura, o ideograma
NO LUGAR DO MEDO
Todos os dias aqui tu te observas
E ainda está oculta (aqui) a tua semente
Comum será a tua raiz
comum
ao olor da fêmea que atua no teu leito
Sê criativo o dia todo
Te empenha o dia todo cauteloso
voa
mesmo hesitante sobre o teu malogro
Quer sigas o fogo, quer sigas a água
sê só do fogo ou só da água
(pois que não há caminho
e a lei
é o inesperado)
Ainda oculta (aqui) a tua semente
está
A CABANA
É preciso dizer-lhe que tua casa é segura
Que há força interior nas vigas do telhado
E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo
E que tens uma esteira
E que tua casa não é lugar de ficar
mas de ter de onde se ir
(Do livro Para Ter Onde Ir)
*
Max Martins (Belém, 1926-2009). É autor de O Estranho (1952), Anti-Retrato (19G0), Alguns Poemas (1965), 15 Poemas (1970), H'era (1971), O Ovo Filosófico (1975), O Risco Subscrito (1980), A Fala entre Parêntesis e Abracadabra (1982), Caminho de Marahu (1983), 60/35 (1986), Poema Cartaz e 3 Poemas (1991), Não para Consolar (1992). |