ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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MILTON CÉSAR PONTES

 

 

 

 

[estravacalhar eu eu nesta noite escura de poemas

eu louro metal inútil um e nada mais no melexete

apenas um raizeiro coberto por um céu plenilúnio

eu espeloteado corro nu por ruas e campos

lá de repente eu com as mãos presas nas pedras

6 vezes falcíparo e vimax aterrorizado por marlene

multidões de cruzes em currutelas eu motores 29 ou 13

esbravejo com freios de mão soltos remanchi às costas

grito no grotão tiro alma pepitas de ilusão eu não

apenas eu dormindo sem domínio dominó de emoções

reivindico meu vicio secreto este desejo acariciado

não de pedras apenas eu e o que queima no mel e

exala eu tufos brancos de erva proibida]

[exala um chumaço de neblina em meus olhos

eu com este desejo desesperado pés na estrada

e a garoa que molha e me emudece nós de cordas

em minha prega vocal eu turbilhões de hematoses

árvores em meus pulmões não faço distinção do

que foi deste que aqui está nem do que virá

vira-vira lobomem eu com esta foice acerto

o meio arisco da testa ou raspo os cabelos

com as pontas queimadas no torpor da tarde

eu neste campo onde ardem meus cascos

sou este cavalo manchado a braços e línguas

eu agueiro sou no suor da fêmea que geme

cavalgaduras rebentando balaústres nos seios]

 

 

* * *

 

 

 

[arrebento com os vitrais que batem em meus dedos

o peito que risca e rebate minhas unhas de agulhas

eu voz de trovão quebro tímpanos e vazio cuspo

arcos de fogo e o frio que sobe do cóccix gelirá meus

olhos de pomba serpente de sulcos que voa e carrega

as sementes do medo capim misturados aquissassa

eu 7 de setembro com meu uniforme 14 de agosto

toco e corro em nome da paz no açude tiro barro

à unhas no vexame de meu sexo preservo

meus sonhos para dizer uma palavra só espero

que meus dentes de marfim quebrem de susto

eus ilhados com esta boca e seus 2003 elefantes

atravesso olhos com a fúria de ruídos em ruínas]

[eu remido entre aromas e especiarias lastimo

ferramentas diluídas de permanência na atmosfera

que me carrega aos giros eu todo círculos de luz

em arrebóis áureos me espanto ao ser o próprio vento

sou este invisível que faz vértices e vertigens na via

láctea petrifico eu com meus rastros de anfíbio

sou este voraz que escreve escuros entre eclipses

cá onde sexos de éter emaranham minhas retinas

de cão acuado na dança de braços e mãos e dedos

sem pêndulos no espaço sou esta parede úmida

que me descasca eu pés feridos piso plumas e lãs

lascado me agarro às divas calhandras de dádivas

chispas de cio não podem romper minha armadura]

 

 

* * *

 

 

 

[eu com armas e hastes nas pontas dos dentes

escrevo lâminas lascando as vertigens do medo

vesgo eu vespertino que levanta um lázaro atrás

eu jateiro transpasso horas a debrear barrancos

sob armas de fogo olhar de onças olhos mercenários

sim continuo debreando debreando há que encontrar

cascalhos virgens sem repassagens eu de santo antônio

de apiahy sou o desmaio que tomba a virgem dos

dragões não o príncipe eu este interior de urbanos

escrevo com esta boca de barro e queimo os passos

meus estranhos pegos no quarador dos pântanos

onde apenas eu dilacero diamantes e ígneo vítreo

emudeço os mil e tantos vadios que me seguem]

[eu a vincos e dobras linguagem vazada

perneando arco-íris sem cores na parte

frontal da cabeça piá mestiço caracóis

pretos colorem meu corpo banhos só

em rios profundos peixes recônditos na alma

quartzo eu memórias de mim não o mesmo

acamo cactos pelas ruas sem reservas terror

e misérias odivadiado este potro de trote

seco avoado ilimitado uni verso angústia

de tortura e cárcere eu dionísio adormecido

sobre tonéis de uvas liquefeitas apedrejo

rimas amassadas de bolor que importa

falta tempo para o que é verdadeiro]

*

 

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