ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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NESTOR LAMPROS

 

 

 

 

LADRÕES

 

Os que roubaram a luz

reconfortam-se: são todos cheios de capuzes

e comandam centuriões,

fósseis eólicos, metanóicos, urzes...

 

Os que roubaram as mãos firmam-se em

ter razão. Depois discórdias, batalhas,

sem perdão...

 

Os que roubaram as palavras

afirmam que nunca chegarão.

E dão lugar à casa dos jactantes vãos...

 

(Eu aqui, quieto, imagino porque ladrões

adoram a televisão...)

Por isso cultivo urtigas, gases nobres  e

matáforas. Para que me deixem cá,  quieto,

no que eles  nunca saberão:

-o valor do valor pretérito, o tempo, este

sem direção de ventos, ou duração.

 

MONÓLOGO À DENISE STOKLOS

ENTRE UMA MESA DE OLHOS TENROS

NA MULTIDÃO

 

O sangue permanece. O tempo permanece.

Permanece a memória e o passado volta

à janela, quando fechada, quando aberta.

A convite do cansaço,  a mão presa à mesa

inaugura o passado em dedos exaustos

no livro da vida, desfolhado.

A luz cáustica e exata e a vida.

A luz parada e o tempo e a voz veraz.

O trovão da voz na foz dos cinco movimentos

apenas, não mais, inaugurando dívidas

refulgindo em certezas de voz- vós e avós,

pai, mãe e filha- a tia e a gargalhada

no meio da tragédia vinda, da tragédia

entre escova e pasta de dente do dia

do corpo que sorriu, talvez, do outro corpo

mantendo o comprimento na casa alheia

ou sua, ou do vento; ilhas e volutas no riso

que o meandro dos dentes escancara, abre e compunge.

No centro do palco o volume sendo descascado

e a soma dos olhos, visão além da esfinge

no tamanco de sua mãe já sem sapatos.

 

Pai que todos temos, amores que perdemos,

filhos, amores, flores, que não plantamos

e colhemos.

10/10/04

 

 

 

 

*

Nestor Lampros é arte-educador, escritor, artista gráfico e artista plástico. É formado em Letras pela FESB, de Bragança Paulista, e pós-graduado em Arte-Educação pela FAAT em Atibaia. Participou do concurso Linguagem Viva, em 1993  e obteve a primeira colocação em poesia. Várias vezes foi o primeiro colocado no Concurso de Contos e Poesias, em Atibaia, sendo que em 2002 acabou sendo o representante da  cidade no Mapa Cultural Paulista, onde em 2004 obteve o segundo lugar na finalíssima na modalidade poesia no Estado de São Paulo. Em 2008,e 2009, novamente, chega à final do Mapa Cultural Paulista, sendo premiado outra vez. Participou de diversas exposições, como artista plástico, na cidade e fora dela.

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