ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

NEUZA PINHEIRO



MENIÉN


Procurava a palavra
meditar
no meu velho dicionário.

Dei com a palavra
Menién

Índios do Jequitinhonha
da família Camacã

Menién.

Aquele acento
agudo
na última
sílaba

Menién.

Próximo à palavra
Menicaca
sob a mosca minúscula
esmagada na página.

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-


VEIO


Veio rascando
pela minha boca
abrindo fendas
sob os ossos

Nenhuma vênia
mea culpa

Secção meticulosa
de equinócios

Veio rasante
precisão mortal
numa incisão vesúvia

quase acordo

anoitecendo
a velha
Nau
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-


VORA


Nada me decifre
na voragem do voo
latitudinário
brevê
em meio
ao breu
meu veludário

Um grito meliante
que se esfinge
é tanto mais quimera que
se medra
Mirante
pouco importa
que tu achas

Árias
Acácias
Galáxias
daqui
me reporto
a outro reino
onde
o mínimo
tece
o pleno
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

PAI


De hora em hora
fazia um solo agônico

Abismo de Rosas


Prescrição
de algum deus pagão


Flagelos de luz
se desmanchavam
no velho del vecchio
almiscarado

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-


SAGA


Morosa alteração
de simetrias

Grânulo
G r a n d e z a
Teoremas

Soma singular
a vida

ondas que desenham
cada história


Siga
Saga
Cega
Sagração

ganha
se na cruz
perde
se na glória?

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

COMUM


Aquele homem comum
com sua mulher comum
dirige um carro comum


No vermelho do sinal
cruza a preferencial


Um homem sem amanhã.


Se fosse o Batman...


-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-


DENTRO


Entro no dentro do dentro

E lá dentro
bem lá dentro
no centrípeto
do centro
tudo batendo tão forte

A morte bate na vida
A vida bate na morte

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

*


Neuza Pinheiro, poeta, cantora e compositora, integrou a banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, e interpretou músicas de Arrigo Barnabé em festivais de televisão. Participou das antologias Outras Praias / Others Shores (1998) e 12 - Antologia de Poetas Londrinenses (2000). Prepara o CD Vermelhô e o seu primeiro livro de poemas.

*

 

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