ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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NYDIA BONETTI

 

 

 

 

CAMALEÔNICA

 

febre
parábolas das águas ternas
termas
gêiseres inquietos
nascentes
vulcânicas rochas quentes
onde
lagartos se estiram
até mudar de cor
[... talvez

de pele

 

 

FANTASIA

 

vórtices vértices vertigens
ventanias
             distantes

do ponto

em que me encontro
            (vazia)

eqüidistante o outro ponto
é fantasia

 

 

ILHA

 

(sou) ilha
que se afasta do que foi
l e n t a m e n t e

sonhando
com seu (meu) pedaço
c o n t i n e n t e

 

 

NÃO FIM

 

parto do princípio
que partir é o principio
e chegar é recomeço
[... não fim

 

NAU

 

lábios, astro lábios
al farrábios

cartapácios sextantes

nau sem rumo viajante
epidérmico mar

(vazante)

onde me encontro
sempre

 

à deriva

da lua: -
quarto minguante

 

 

DAS CORES DOS BICHOS

 

garças rosas

desafiam a lógica das cores
dos bichos

todos - deveriam ser azuis

(como as pedras, as árvores

e as maçãs)

sob o céu vermelho dos meus delírios

 

 

ÁRVORE

 

quero manter meu coração
sempre verde

sangrando em seiva

que nele possam
se abrigar muitos pássaros

metafísicos
(e não)

 

 

BEGÔNIAS INVENTADAS

 

escarpas

onde crescem
begônias

intocáveis
plenas

inacessíveis

(meus olhos
vagos

as recriam)

no vaso
sobre a mesa

cultivo

begônias
inventadas

 

 

ABISSAL

 

o pássaro que mora em mim insiste e canta
pressentindo sóis

nascentes

tolo, não se deu conta ainda, de que a noite
abissal em que vive

nunca amanhece

 

 

TEXTURA DE VENTO E FLOR

 

ando em busca dos véus
que nos desnudam

e dos vestidos que nos despojam

ando em busca dos panos etéreos
que nos revelam: -

textura de vento e flor

 

 

QUALQUER COISA

 

há um jardim qualquer
em qualquer canto
onde uma flor qualquer
brotou
de qualquer cor
de qualquer forma é flor
e eu a oferto
a quem souber cuidar
ou qualquer coisa
assim
[... qualquer coisa

 

 

*

 

Nydia Bonetti nasceu em 1958, é poeta e engenheira civil, bloga no Longitudes.

 

Leia outros poemas da autora.

*

 

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