PABLO ARAÚJO
Pessoas e movimento escuro.
Cada um recebe uma coisa.
Estranha e única.
Não vejo o que há dentro.
Não abro. Não se pode abrir. Não agora.
Talvez nunca. Depois talvez. O que há sempre.
Estudo e reconheço toda a superfície da coisa.
Aroma. Cor. Tessitura. Som. Gosto. Densidade.
Exceto o seu interior. Se é que existe.
Então as tagarelices e conjecturas do Como Onde
Quando Pra quê Por quê da coisa etc etc. Não mais
suportam a curiosidade e abrem-nas.
Muitas examinações. Alguns supõem que sabem
o que viram. Pior: outros crêem que sabem.
Muito pior: muitos supõem ou crêem que abriram.
Não sei. Nem abro. Talvez depois.
Ocasiões. Oportunidades. Convites. Permissões.
Sobrevém toda força da intolerável sedução.
Estou a ceder. Prestes a. É agora.
Não abro. Não se está disponível..
Agüento firme. Crescimento. Preparo. Lentidão.
Espera. Imagino o que seja. Não sei.
Talvez não. Sim talvez. Volta e volta.
Cada dia a coisa está mais e mais
Em sua plena posse : entrega e desaparição.
Deixo-a ir.
Não é minha. Nunca foi. Nem será.
Deixo-a ir embora. Sempre.
Sem ainda abrí-la dou-me ao último e maior contato.
Largo e ilumino-a com a melhor forma. Embora vai a coisa
sem ninguém a notar nem saber. Fechada e suprema em si
e nunca mais. Algo que.
*
Treze planetas
alinhados na frente de batalha.
Nenhum outro instante
senão este : o gesto decisivo.
Todavia o Sim que diz Não
quase tudo recomeça do zero
persiste continua
a preparação dos trabalhos
repartidos entre Não e Não.
Dentro e fora : Alguém
Dor : beleza intratável.
*
coreografia : o poema no centro da noite.
Silêncio e
só.
Guarda-se
a infinidade do sono. Abrem-se os olhos.
Encontro da primeira pessoa do dia. Barulho e
rumores
a cabeça atenta e presente a tudo : esquecimento.
Outros dias. Outras noites
outra coisa que sempre foi : nunca esteve aqui.
Sabe-se. Não se sabe : cinismo e
inocência estão por todos.
Vamos embora. Ainda sorrimos.
Dia e noite a dança desenvolve-se longamente nas
esferas
com tanta beleza liga-se um a um rumo ao
grande centro da dor
para tudo acabar de uma vez. começar nunca
mais.
Início de tudo e de todos. Para sempre :
e.
*
Porque a Morte : Vitória.
Anúncio da Loucura : tudo acaba e
continuação.
Fulminação e reconhecimento Mdesou.
Circunvoluções e rápidas trocas.
Tudo é um grande Não : Sim.
*
Nove
vezes abre-se a ferida... ...lentamente
e mais um pouco multiplica-se
como se abre.....o mar...... inteiro......
indestrutível.
Sephir......Sephir..... .:...... o nome não revelado.
Outro a outro.... ..:.... ..nem isso......nem
aquilo......:......a Coisa é.
*
A
sarça.......o fogo que a engole.
As coisas quase posicionadas......:......sempre será preciso
partir.
Os trabalhos e os crimes são enormes.........outros nomes.
O instinto das convocações.......:.......pois têm de ser
feitos
o fogo.......a sarça.......as coisas.......:.......fazemos
mas não fazemos........o nome enquanto.
*
De
nada ou muito pouco
Adiantam o Livro a Casa a Roupa.
A Mulher - O Homem : equívoco de toda e maior
explicação.
Obliqüidade do Amor : menos mais contra.
Ler ou escrever não são nada se não se sente e vive e
se é : Isto.
*
Confusão total do homem.......:.......um minuto a algum
acontecimento.
As coisas sem-nome apontam para o Zero...........o círculo
e todas as diferenças.......:.......isto que está aqui
não está mais...........e está.......:.......o Um.
*
A
música impossível. Sempre aqui.
Mesmo quando não está. Não está.
Mas está : interrupta e real
após e junto a todo Terror
a mais bela de todas as canções.
O Centro no Centro : é.
Ainda não é. Pois.
Também Não : Sim.
*
A
grande experiência : muito pouca.
Os homens e as mulheres que não se sabem.
Cada novo movimento no mundo que se desconhece.
Tempo zero.......:.......caça e contra-ataque
movimento........fogo........ferocidade........abertura.
*
Pensamos o silêncio do mundo pra nada.
Eu sei tudo. Sou todos os poetas esquecidos.
Qualquer outro desprezado
Chega o tempo do orgulho.
É a coisa mais linda te levando por todas as outras.
Não respondo. Não pergunto. Aquele que.
Agora prestes a ir embora.
*
Pronto.......:.......você terá de partir.
A garganta silencia o dia. Os objetos estão colocados à
disposição.
Usa-os como última e primeira arma.
Enfrentamento dos.equívocos e dores a toda forma.
Aqui o amor permanece..Há de ir embora agora mesmo e
retornar.
E não esqueça o mais importante...:.....
O que
há de ser.......:.......a Primeira Palavra
o imenso e simples sem-nome de todas as
coisas.......:.......Vivas ....
o mundo.......foi.......é.......será.......Um
Só.......:.......o único sopro.......:.......Isto.
*
Toda
viagem é traição : o caminho do meio passa por
extremos.
Pressentimento. Ao final : nada.
Ninguém o diz. Todos dizem. Um poema se faz e não se faz.
O que não se vê. O que não se ouve. O que não se diz.
O que não se sente. O que não se pensa. A dança da
dificuldade.
Há dias que não se sabe qual é o dia nem como os dias
passam.
A verdade é que essa coisa de verdade e mentira é tudo
mentira.
Pouco mais : pouco menos. Falta algo. Faltam
algos.
Qual é o jogo? Qual é a regra? Todos sabem. Ninguém o sabe.
A todo momento mudam-se os jogos e as regras.
Isto não se conta a ninguém. Alguém. Alguéns. Qualquer.
Perceba quem puder perceber. E se percebermos?
Não sabemos muito bem o que faremos.
Não se trata de poema algum : a vida se faz e não se
faz assim.
Estamos por qualquer viagem que apareça.
Não há jogo : regra nenhuma : Festa Furiosa.
*
A
relação das coisas é antiga.
Primeira e sempre a relação com as coisas.
Não se sabe...........e nasce...........Fechamento.
Vida.......:.......violentamente delicada.
A velocidade da poeira sob o sol rebatia nos rostos.
E não queria fazer nada..........não poderia fazer nada.
Há um único modo.......:.......outros modos.
Calo e saio...........Primeiro.........último.........sempre
Abertura.......:.......noite.
Pois o canto são dos outros.
O canto deles maior do que Eu.
*
Fúria.......:.......e
não destrói as coisas.
Coloca-se cada coisa no próprio lugar
arruma-se.........e pronto.......:.......o que não há de
chegar
o que há.......:.......não move sequer um passo
o centro do gesto.........inteiro.........definitivo.
Antes e depois.........ainda enquanto.
.............................:.......Por quantas vezes
ler tudo isto............e não se sabe ler.
*
Uma investigação. Uma ordem. Uma disciplina.
Tenho fome. Uma fúria delicada. A rápida lentidão. E nada
adianta. As Histórias, os Livros, a Literatura exigem e só
sabem exigir e ignoram assim como eu ignoro.
Exige-se uma certa ordem. Um pouco de caos. Quais
as medidas?
Isto de nada serve. As coisas que somem e as
coisas que ficam. O que morre agora e definitivamente. O que
renasce muito tempo depois. O que volta a morrer . O que
sempre se manteve medíocre. E o que nunca morre e permanece
para sempre. Todas as rotações e translações. Todas as
diferenças. Tudo é a mesma única coisa.
E acabei de dizer nada. Não sei dizer. Diz-se
algo e não. As maiores e melhores disposições foram ditas há
tanto tempo atrás.
Repete-se a coisa pra quê? Não respondam. Não é a
pergunta. Muito menos a resposta.
Poucos, muito poucos objetos ao redor são
necessários para iniciar o entroncamento e extensão das
imaginações.
O corpo. Os desejos. Os cinco ou mais sentidos. A
memória
Ação! Movimento! Ação aqui e agora e depois e
antes e tudo o que é penetrante e sucessivo. O movimento das
coisas aqui e agora e as pessoas. As presenças. As outras
pessoas.
As histórias e os movimentos do mundo.
Dentro em pouco cumpre-se a partida.
Começa-se de algum modo.
*
Pablo Araújo vive no Rio de Janeiro desde 1981.
Encontra-se em
http://fatalbecosemsaida.blogspot.com.