ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 RENATO MAZZINI

 

 

EGITO

sua própria flora, fóssil.
os dedos magros
do ar beliscando o rosto,
promessa de saber uma
coisa a mais, entre as rochas
com os grãos quentes,
pequenos tesouros seus
abertos aos céus, estritos
à palavra secreta, se dita
pela língua certa, a boca,
os lábios, os dentes —
liqüefeita.

 

 

CINEGRAFIA

 

um plano amplo e

tão aberto feito todo

de metade-som, loops

de vista, algum passante

com a discrição de um urso;

música ambiente dos comerci

-antes, talvez nunca depois

de um gole de conhaque,

a praça de vidro, um

palanque, a fluidez

a imagem esgueirando

-se rápida como a pressa

de um réptil ou um rasgo

no tempo.

 

 

LIVRO

 

o poema se debate em seu

véu agrícola,

a escrita térrea de verde, marrom,

cordas. sem a

conjunção das vistas de janelas

sem o passo pesado

das botas de acrílico, em torno

uma cisma de

cálculos matemáticos simples,

raiz, grama, graveto,

arado, permissão (pressentimento)

o jipe, o cão,

a ave sobre o cavalo cego.

 

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aluno das asperezas do

corpo. logo luva plástica

desmanchando a luz dos

postes. ao demover os

lugares (sombra, limo,

suspense de parede) e

então pensa as cidades

suspensas imagina que

espiralem, sumam para

dentro, se auto-devorem.

de áspero talvez o cenho,

talvez o céu específico, o

não-outro, esvaível, amarelo

crespo ao invés de azul, as

paralisias, o alto das janelas.

 

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(desentranhar da página um só

pássaro, coagi-lo a tomar formas:

que seja a bengala para tirar

de cena pelo pescoço o verão,  

desde a propulsão anti-gravitacional

das folhas despencando dos galhos

já metade-secas, até a sílaba

semi-pronta que estala trovões no

céu; sabe-se dos relâmpagos só

a linha luminosa e serpenteante

e) todo trovão, sem exceção,

é oco.

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limões. aponta pela porta uma

aura verde como da fruta no pé

azeda de sua retórica particular;

a mácula de uma roupa deixada

do avesso sobre o corpo estirado

no chão, sem estar rente: costas,

costelas, sal, maço de cigarros

violado no lacre. aponta outra vez

agora a cabeça para a luz, uma

vinda de aeronaves do céu, todas

reluzindo absurdas asas de pássaro,

e deixam um redor de plumas, só

recolhem o que não brilha, cabelo

longo, unhas silvadas de material

anti-séptico. depois apenas o rastro

de uma claridade que deixa, como o

sair apressado de um flash fotográfico.

 

*

Renato Mazzini nasceu em Santa Fé do Sul-SP, em 1981. É bacharel em Direito, professor e dormidor compulsivo. Publicou poemas nos blogs/sites As Escolhas Afectivas, Cronópios, Germina Literatura e na revista Inimigo Rumor 20.

*

 

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