poste aceso no
saara.
a sombra
sozinha
de uma nuvem
ilhada
no meio da água.
pra você disseram
cuidado
e o tipo de coisa
que você aprende é assim
:
desconfiar do susto. evitar o soluço do assalto.
tomar os remédios antes e perguntar
depois.
pra você disseram
como evitar
sem sair de casa a
solidão (poste aceso no saara. sombra
sozinha
de uma nuvem ilhada
no meio da água.)
e todos os seus
dias agora são assim
:
sol se pondo
sobre os créditos do filme da sessão
da tarde.
óculos escuros em todas as
fotografias do álbum,
dissimulando seus olhos outrora
cravados
na estrela mais nova e mais
solitários
que a morte.
*
luzes distraem
sirenes.
bailarinas chapadas
nos sinais fechados.
sorrisos nos bolsos do jeans, escute
: é sempre a mesma estrada
acordes menores
olhares pela metade
a gente que nunca jogou assim
dardos cegos sobre as linhas borradas da minha mão
a letra de Deus
que um único lance de dardos não apaga mas
a gente
diz que está
ilegível.
sorrisos nos bolsos do jeans, escute
: é sempre a mesma estrada
acordes menores
olhares pela metade
a gente que nunca jogou assim
dardos cegos sobre as linhas borradas da minha mão
a letra de Deus
que um único lance de dardos não apaga mas
a gente
diz que está
ilegível.
*
cigarros acesos se escondem na neblina feito luas
selvagens.
a manada de trovões acerta
minha testa com um
tapa, dizendo: veja,
e vejo você.
eu perdi todas as minhas piadas, e os meus poemas
se parecem cada vez mais com a minha vida, ou com aquele
boxeador, lembra?
aquela mentira sobre um boxeador que esquecia
de amarrar os cadarços antes de pôr as luvas e lutava
como um novato contra a própria burrice.
você nunca perguntou de onde afinal eu tirava
todas aquelas coisas, como perguntam as pessoas
sem nenhum senso de humor, e eu nunca
deixei de viver como se minha vida,
essa que cada vez mais se assemelha aos poemas,
dependesse de ter a resposta certa
como um carro que finalmente dá a partida ou a granada
enrolada naquela
breguíssima declaração de amor
serão sempre a resposta certa.