ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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REUBEN
 

 

poste aceso no
saara.

a sombra
sozinha
de uma nuvem

ilhada
no meio da água.

pra você disseram
cuidado
e o tipo de coisa
que você aprende é assim
:
desconfiar do susto. evitar o soluço do assalto.

tomar os remédios antes e perguntar
depois.

pra você disseram
como evitar
sem sair de casa a

solidão (poste aceso no saara. sombra
sozinha
de uma nuvem ilhada
no meio da água.)

e todos os seus
dias agora são assim
:
sol se pondo
sobre os créditos do filme da sessão
da tarde.

óculos escuros em todas as
fotografias do álbum,

dissimulando seus olhos outrora

cravados
na estrela mais nova e mais
solitários

que a morte.

 

*

           luzes distraem
sirenes.
           bailarinas chapadas
           nos sinais fechados.

sorrisos nos bolsos do jeans, escute
: é sempre a mesma estrada
           acordes menores
olhares pela metade

a gente que nunca jogou assim
dardos cegos sobre as linhas borradas da minha mão
           a letra de Deus
que um único lance de dardos não apaga mas
a gente
           diz que está
           ilegível.
 

 

sorrisos nos bolsos do jeans, escute
: é sempre a mesma estrada
                  
acordes menores
olhares pela metade

a gente que nunca jogou assim
dardos cegos sobre as linhas borradas da minha mão
                 
a letra de Deus
que um único lance de dardos não apaga mas
a gente
                
diz que está
                 ilegível.

*

cigarros acesos se escondem  na neblina feito luas selvagens.

a manada de trovões acerta
                minha testa com um
tapa, dizendo: veja,
e vejo você.

eu perdi todas as minhas piadas, e os meus poemas
se parecem cada vez mais com a minha vida, ou com aquele
boxeador, lembra?

aquela mentira sobre um boxeador que esquecia
de amarrar os cadarços antes de pôr as luvas e lutava
como um novato contra a própria burrice.

você nunca perguntou de onde afinal eu tirava
todas aquelas coisas, como perguntam as pessoas
sem nenhum senso de humor, e eu nunca

deixei de viver como se minha vida,
essa que cada vez mais se assemelha aos poemas,
dependesse de ter a resposta certa

como um carro que finalmente dá a partida ou a granada enrolada naquela
breguíssima declaração de amor
serão sempre a resposta certa.
 

 *


Reuben
possui narrativas publicadas na Cult e na Revista de Autofagia (BH). Algumas estão espalhadas pela internet, ao contrário de outras. Nasceu em São Luis (MA), em 1984. Escreve regularmente em www.trompetistagago.wordpress.com.

*

 

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