RICARDO
ALEIXO
Teofagia
Aqui, eu -
consumada falha
de papai e mamãe:
meia ¾
(acho
que de menina),
uma palma
e uma folha
de papel na mão,
minutos
depois
de deglutir
Deus à
guisa
de primeira
comunhão.
Antropofagia
Me olhou
como se olhasse
para um tarado
que a olhasse
firme (como
um tarado).
Tudo muito
rápido. Pleno
sol de
meio
da tarde.
Um tanto
pela surpresa,
outro por amor
ao jogo,
movi, indicando
o rumo,
a cabeça:
então passasse logo.
Entendeu.
Forçou
uma carinha de medo
e me chamou
("Vamos"
- ela/eu
disse) com o rabo
do olho.
Autofagia
No mar de água morna
e sem ondas
da minha
cama
de velho
puto
a punhetas
relegado,
computo
as conas
e os
cus que já
não como,
viro pro
lado
e durmo regalado.
*
Ricardo Aleixo, poeta, músico e artista visual,
nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1960. Publicou os livros
de poesia Festim (1992), A roda do mundo (1996),
com Edimilson de Almeida Pereira, Quem faz o quê?
(1999), Trívio (2001) e Máquina Zero
(2004). É responsável por inúmeras obras
multimídia e intermídia, além de instalações
cênicas e videopoemas.
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