Um
dia
Hoje me botaram numa jaula
Eu fiquei andando
De um lado para o outro
Feito um bêbado
que via
Muitos dedos num só
Que eram tantos assim
Mas não tinha dedo
algum
A me enforcar só eu mesmo
E a ficção de que amei
Bula
Até que enfim veio a paz
Pude dormir sem tremer
Pude temer sem dormir
Pude urinar em mim
Enfim pude fazer o que
quis
Pelo menos uma vez
Foram comigo daqui
Leram-me a minha bula
Considerações sobre o pop
Acho que as pessoas tristes vivem mais
Elas tomam mais remédios
Os doidos só não
tomam mais remédio
Por que os laboratórios não querem
Governos preferem habitar
algum planeta
Do que habitar algum remédio e alguma mente
È tão perigoso
falar da loucura
Podem achar que eu sou louco mesmo
Mentes cartesianas
Vou mandar um livro pra você
Um livro que diga como fazer pra não ter vontade
De se matar
Um livro que dê
vontade de tomar banho
E que me faça acordar todo o dia as seis horas
Da nova manhã
Um livro que o coloque
em linha reta
E acabe com o seu paralelismo que alterna
Alguns graus pra lá
Um livro que te solucione
Pois você é um problema difícil
Para todo mundo
Certeza sem nuvens e estrelas
Nunca saio de mim
Por isso sou só
Tenho uma camada de pó
Tomo remédios coloridos
Escuto com três
ouvidos
E vejo com um olho só
Agora me olha e me diz
Se estou certo
Se sou mesmo este céu
deserto