ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

RUY VASCONCELOS



Três Inéditos


ARAME

sob as vírgulas
o peixe filtrado pelo
olho envolto no verde
exceto abaixo
onde seixos
calam fundo

mas o espectro
argento do peixe
em vago rastro
até os seixos
move uma farpa
que não cessa


TEU NOME

em teu nome
há um mar
e uma bossa nova
um jaguar
um césar
uma roda d’água
um adro de igreja
pétala de jasmim
um dente de alho bem dourado
e a enamorada de teseu
uma casa em messejana

em teu nome roubado
e toscano
frágil e nuvem no centro
auro e prumo nos flancos
há uma seita herética
um relógio de sol
um odor de lavanda
uma muralha em inglaterra
o ato de içar bandeiras
uma graciosa cabala
um atril

em teu nome
de vogal há bromélia
e adstringente entropia
mercearia em mariana
letra à giz sobre lousa verde
uma alergia, um parque
um coreto limado de sol
e sombras devolutas
num pátio de gaudí
e bredos-da-praia, e copa de aluá
canoa em camocim

afora uma caligrafia
de ponta à cabeça
a meio gasto

e nessa caligrafia
giro de ciranda
está escrito
letra à giz sobre lousa verde
o teu outro nome

está escrito
o teu nome de guerra

que era


EPIGRAMA

não

ficará
   perda

sobre
   perda


*


Ruy Vasconcelos de Carvalho, poeta e músico cearense, nasceu em 1963, residindo hoje em Fortaleza. É professor universitário. Publicou poemas em revistas brasileiras e estrangeiras, e integra a antologia Nothing the sun could not explain (1997).

*

 

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