FIBROMIALGIA
- Sou todo
pó de nervos.
Animal movido
a rações diárias
de pó de vidro,
a doses crescentes
de fadiga ânsia raiva.
Banhado por sonos
sem sonhos - parece
que durmo acordado.
Tudo que em mim arde
pensa farpado. A consciência
é cãibra da alma,
sem indício em laboratórios.
- Seu cérebro
não gera
tanta serotonina
como deveria
faça alongamento
caminhada terapia
aeróbica. Stress? Evite.
Eu, peripatético
por vias poluídas?
Em peripécias entre bólides,
essas paródias de balas perdidas?
Doutor, que me resta?
Render-me ao tecno das academias?
Não é melhor tocar um tango argentino?
AO LADO DE UM MUSEU DE ARTE
numa calçada
colada a museu - o status sem hiato
ao lado de um quadro de Picasso -
aglomerado de garrafas vazias
algumas em verde sobriedade
outras dissimulando
em derrisões
azuis e transparentes
todos com seus rótulos
engravatados-o esgrimir de grifes
frente a um Magritte -
espectros de um idílio
etílico entre luxo e lixo
acotovelando-se entre
o (a)parecer ou perecer
DESJEJUM / JUANTAR
como profeta uma brisa
violeta sopra do horizonte
recém aberto e antecipa sua lição
lição de
luz líquida
da janela derramando-se
em oleado e vinho tom
tom que de circular se
consolida
em novelo trigueiro-ouro
e no enovelar se prateia
expondo na mesa a conclusão
- sol amalgamado em pão -
um aroma macio de aurora
rescende dos temperos
pratos e panelas descortinando
todo um panorama de manhã-anfitriã
a realimentar a antiga fome
de nossa primeira lição
em pleno curso do crepúsculo
notícia de jornal:
seringas sanguinolentas
curativos embebidos em pus
sacos plásticos de vísceras
impacientes na calçada
ao lado de um hospital
notícia de jornal:
uma sobrevivente
de aterro sanitário comeu
Tinha gosto diferente estranho
fígado humano por engano
percebido depois de ver um seio
paciente escorrendo do saco plástico
onde encontrara Carne! Milagre!