ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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VICENTE FRANZ CECIM

 

 

DEVER DE NUTRIR AS SOMBRAS

uma construção em forma de círculo

Por que chamada a Casa da Vida?

Caminhos que dão voltas, onde não se encontra

ninguém

Ninguém

que seja alguém A Companhia

Como empalideceu o grão, aqui,

agora que caiu

para crescer da terra,

órfão de uma estrela que se apaga na chama

de uma vela

Como teme

o rugido

da noite encerrada em si mesma o animal

que adormeceu

sem resolver o enigma

Uma construção em forma de círculo

onde homens-pássaros

com asas de pedras, impedidos de voar,

perseguidos pelo vento

e a ameaça das sementes,

ouvem no ninho das coisas nascidas de coisas nascidas

um voz que recita: Isto passará

Esse é

o grão da má sorte

uma construção em forma de círculo

Em forma de homem

abraçado a si mesmo,

como dois irmãos que se quisessem bem

Frágeis como a linha do horizonte

e o murmúrio das cinzas e das fontes

 

DEBER DE NUTRIR LAS SOMBRAS

 una construcción en forma de circulo

¿Porqué se llama Casa de la Vida?

Caminos que dan vueltas, donde no se encuentra

nadie

Nadie

que sea alguien La Compañía

Como palideció el grano, aquí,

ahora que ha caído

para crecer de la tierra,

huérfano de una estrella que se apaga en la llama

de una vela

Como teme

el rugido

de la noche encerrada en si misma el animal

que se adormeció

sin resolver el enigma

Una construcción en forma de circulo

donde hombres pájaro

con alas de piedra, impedidos para volar,

perseguidos por el viento

y la amenaza de las simientes,

oyen en el nido de las cosas nacidas de cosas nacidas

una voz que recita: Esto pasará

Este es

el grado de mala suerte

una construcción en forma de circulo

En forma de hombre

abrazado a si mismo,

como dos hermanos que se quisiesen bien

Frágiles como la línea del horizonte

y el murmullo de las cenizas y las fuentes

 

 II

PARA ADORMECER AQUELE QUE VELA

 Há montanhas em sonhos

tão antigas,

onde sonham

os grãos da areia que te sonha

O que sobrevive na hora

que apaga a última claridade?

De quem faz a Noite a vontade?

Dia ou homem,

uma túnica de rancor é o que eles vestem,

e as montanhas vêm rugir

Caladas

Se veio o Tempo,

é que é tempo de colher sob as estrelas

o centeio negro com mãos mais brancas, caiadas

 

PARA ADORMECER A AQUEL QUE VELA

 Hay montañas en sueños

tan antiguas,

donde sueñan

los granos de la arena que te sueña

¿Qué sobrevive en la hora

que se apaga la última claridad?

¿De quién hace la Noche su deseo?

Día u hombre,

una túnica de rencor es lo que visten ellos,

y las montañas rugen

Calladas

Si veo el Tiempo,

es que es tiempo de coger bajo las estrellas

el negro centeno con manos más blancas, encaladas

 

 III

A IMPACIÊNCIA DAS SEMENTES

 O laço estava armado E o sol se pôs,

com um rumor escuro,

para que o animal conhecesse a armadilha,

para que a armadilha conhecesse o animal

Quantas vezes eu

esperei por ti, minha Sombra

e em mim nenhum passo foi dado que anunciasse a

Tua chegada

Para que haja um espírito, as florestas cantam ventos

Existe uma árvore rara

dando seu fruto à vida

E ninguém sabe porque

os sóis brotam todo dia

 

 LA IMPACIENCIA DE LAS  SIMIENTES

 El lazo estaba armado Y el sol se puso,

con un rumor oscuro,

para que el animal conociese la trampa,

para que la trampa conociese al animal

Cuantas veces yo

esperé por ti, mi Sombra

y en mí no se dio ningún paso que anunciase

Tu llegada

para que exista un espíritu, las florestas cantan vientos

Existe un árbol raro

dándole su fruto a la vida

Y nadie sabe porqué

los soles brotan todos los días
 

*


Vicente Franz Cecim nasceu em Belém do Pará.  Em 1979, com A asa e a serpente, iniciou uma longa obra que até hoje  continua criando: Viagem a Andara, o livro invisível, em que transfigura a sua região natural, a Amazônia, em Andara: uma região-metáfora da vida em que o sobrenatural emerge em epifania. É onde ambienta todos os seus livros. Em 1980, o segundo livro individual de Andara, Os animais da terra, recebeu o Prêmio Revelação de Autor da Apca – Associação Paulista de Críticos de Arte.  Em 1981, A noite do Curau, primeira versão do terceiro livro de Andara, Os jardins e a noite, recebeu Menção Especial no Prêmio Plural, no México. Em 1988, Viagem a Andara, o livro invisível (Editora Iluminuras, São Paulo) reunindo os 7 primeiros  livros de Andara recebeu o Grande Prêmio da Crítica da APCA. Em 1995, Cecim publicou Silencioso como o Paraíso (Iluminuras, São Paulo)reunindo mais 4 livros individuais de Andara. Em 2001, quando a invenção de Andara completou 22 anos, publicou Ó Serdespanto (Íman Edições, Lisboa)com 2 novos livros de Andara, apontado pela crítica portuguesa como um dos melhores livros do ano. Em 2004 relançou, em versões finais, transcriadas, os 7 primeiros livros de Andara reunidos nos volumes A asa e a serpente Terra da sombra e do não (Editora Cejup, Belém). Em novembro de 2005, publicou seu primeiro livro em Iconescritura, também em Portugal: K O escuro da semente(Ver o Verso, Maia).  Em 2006, saiu a edição nacional de Ó Serdespanto (Bertrand Brasil, Rio).

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