ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ALEJANDRA PIZARNIK

 

 

LOS PASOS PERDIDOS

Antes fue una luz
en mi lenguaje nacido
a pocos pasos del amor.

Noche abierta. Noche presencia.


OS PASSOS PERDIDOS

Antes foi uma luz
na minha linguagem nascida
a poucos passos do amor.

Noite aberta. Noite presença.


ENCUENTRO

Alguien entra en el silencio y me abandona.
Ahora la soledad no está sola.
Tú hablas como la noche.
Te anuncias como la sed.


ENCONTRO

Alguém entra no silêncio e me abandona.
Agora a solidão não está só.
Tu falas como a noite.
Te anuncias como a sede.


AMANTES

una flor
             no lejos de la noche
             mi cuerpo mudo
       se abre
a la delicada urgencia del rocio


AMANTES

uma flor
           não longe da noite
           meu corpo mudo
      se abre
à delicada urgência do orvalho


FRONTERAS INUTILES

un lugar
no digo un espacio
hablo de
             qué
hablo de lo que no es
hablo de lo que conozco

no el tiempo
sólo todos los instantes
no el amor
no
             sí
no

un lugar de ausencia
un hilo de miserable unión


FRONTEIRAS INUTÉIS

um lugar
não digo um espaço
falo do
           que
falo do que não é
falo do que conheço

não o tempo
só todos os instantes
não o amor
não
           sim
não
um lugar de ausência
um fio de miserável união


TE HABLO

estoy con pavura.
hame sobrevenido lo que más temía.
no estoy en dificultad:
estoy en no poder más.

no abandoné el vacío y el desierto.
vivo en peligro.

tu canto no me ayuda.
cada vez más tenazas,
más miedos,
más sombras negras.


TE FALO

estou com pavor.
aconteceu o que eu mais temia.
não estou em dificuldades:
não posso continuar mais.

não abandonei o vazio e o deserto.
vivo em perigo.

teu canto não me ajuda.
cada vez mais garras,
mais medos,
mais sombras negras.


PRESENCIA DE SOMBRA

    Alguien habla. Alguien me dice.
    Extraordinario silencio el de esta noche.
    Alguien proyecta su sombra en la pared de mi cuarto. Alguien me mira con mis ojos que no son los míos.
    Ella escribe como uma lámpara que se apaga, ella escribe como una lámpara que se enciende. Camina silenciosa. La noche es una mujer vieja con la cabeza llena de flores. La noche no es la hija preferida de la reina loca.
    Camina silenciosa hacia la profundidad la hija de los reyes.
    De demencia la noche, de no tiempo. De memoria la noche, de siempre sombras.


PRESENÇA DE SOMBRA

    Alguém fala. Alguém me diz.
    Extraordinário silêncio o desta noite.
    Alguém projeta sua sombra na parede do meu quarto. Alguém me olha com meus olhos que não são os meus.
    Ela escreve como uma lâmpada que se apaga, ela escreve como uma lâmpada que se acende. Caminha silenciosa. A noite é uma mulher velha com a cabeça cheia de flores. A noite não é a filha preferida da rainha louca.
    Caminha silenciosa até a profundidade a filha dos reis.
    De demência a noite, de nenhum tempo. De memória a noite, de sempre sombras.


CAER

Nunca de nuevo la esperanza
en un ir y venir
de nombres, de figuras.
Alguien soñó muy mal,
alguien consumió por error
las distancias olvidadas.


CAIR

Nunca de novo a esperança
em um ir e vir
de nomes, de figuras.
Alguém sonhou muito mal,
alguém consumiu por engano
as distâncias esquecidas.


LAZO MORTAL

    Palabras emitidas por un pensamiento a modo de tabla del naúfrago. Hacer el amor adentro de nuestro abrazo significó una luz negra: la oscuridad se puso a brillar. Era la luz reencontrada, doblemente apagada pero de algún modo más viva que mil soles. El color del mausoleo infantil, el mortuorio color de los detenidos deseos se abrió en la salvage habitación. El ritmo de los cuerpos ocultaba el vuelo de los cuervos. El ritmo de los cuerpos cavaba un espacio de luz adentro de la luz.


LAÇO MORTAL

    Palavras emitidas por um pensamento como a tábua do naúfrago. Fazer amor dentro do nosso abraço significou uma luz negra: a obscuridade se pôs a brilhar. Era a luz reencontrada, duplamente apagada mas de algum modo mais viva que mil sóis. A cor do mausoléu infantil, a mortuária cor dos desejos detidos se abriu na selvagem habitação. O ritmo dos corpos ocultava o vôo dos corvos. O ritmo dos corpos cavava um espaço de luz dentro da luz.


EN UM EJEMPLAR
DE “LES CHANTS DE MALDOROR”

   Debajo de mi vestido ardía un campo con flores alegres como niños de medianoche.

   El soplo de la luz en mis huesos cuando escribo la palavra tierra. Palavra o presencia seguida por animales perfumados; triste como sí misma, hermosa como el suicidio; y que me sobrevuela con una dinastía de soles.


EM UM EXEMPLAR
DE “LES CHANTS DE MALDOROR”

   Debaixo do meu vestido ardia um campo com flores alegres como crianças de meia-noite.

   O sopro da luz nos meus ossos quando escrevo a palavra terra. Palavra ou presença seguida por animais perfumados; triste como ela mesma, bela como o suicídio; e que me sobrevoa com uma dinastia de sóis.


CANTORA NOCTURNA

Joe, macht die Musik von damals nacht...

    La que murió de su vestido azul está cantando. Canta imbuida de muerte al sol de su ebriedad. Adentro de su canción hay un vestido azul, hay un caballo branco, hay un corazón verde tatuado con los ecos latidos de su corazón muerto. Expuesta a todas las perdiciones, ella canta junto a una niña extraviada que es ella: su amuleto de la buena suerte. Y a pesar de la niebla verde en los lábios y del frío gris en los ojos, su voz corroe la distancia que se abre entre la sed y la mano que busca el vaso. Ella canta.

a Olga Orozco


CANTORA NOCTURNA

Joe, macht die Musik von damals nacht...

    A que morreu em seu vestido azul está cantando. Canta imbuída de morte ao sol de sua ebriedade. Dentro da sua canção há um vestido azul, há um cavalo branco, há um coração verde tatuado com os ecos pulsáteis de seu coração morto. Exposta a todas as perdições, ela canta junto a uma criança perdida que é ela: seu amuleto de boa sorte. E apesar da névoa verde nos lábios e do frio cinza nos olhos, sua voz corrói a distância que se abre entre a sede e a mão que busca o copo. Ela canta.

a Olga Orozco


MADRUGADA

Desnudo soñando una noche solar.
He yacido días animales.
El viento y la lluvia me borraron
Como a un fuego, como a un poema
Escrito en un muro.


MADRUGADA

Dispo sonhando uma noite solar.
Jazi dias animais.
O vento e a chuva me apagaram
Como a um fogo, como a um poema
Escrito em um muro.

 

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Traduções: Virna Teixeira

(Cantora Noturna e Madrugada foram traduzidos em parceria com Eduardo Jorge).

 

*

Alejandra Pizarnik nasceu em Buenos Aires, em 1936, em uma família de imigrantes da Europa oriental. Estudou Filosofia e Letras na Universidade de Buenos Aires. Viveu em Paris entre 1960 e 1964, período no qual estudou literatura francesa na Sorbonne e trabalhou para a revista Cuadernos e outros periódicos franceses. Publicou seis livros de poesia, o primeiro em 1956: La última inocencia. Teve intensa atividade como crítica e tradutora. Traduziu Antonin Artaud, Aimée Cesairé e Henri Michaux para o espanhol, entre outros. Morreu em 1972.

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