ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ALLEN GINSBERG

 

 

WRITTEN IN MY DREAM BY W. C.  WILLIAMS

"As Is
you're bearing

a common
Truth

Commonly known
as desire

No need
to dress

it up
as beauty

No need
to distort

what's not
standard

to be
understandable.

Pick your
nose

eyes ears
tongue

sex and
brain

to show
the populace

Take your
chances

on
your accuracy

Listen to
yourself

talk to
yourself

and others
will also

gladly
relieved

of the burden -
their own

thought
and grief.

What began
as desire

will end
wiser."

November 23, 1984

 

ESCRITO NO MEU SONHO POR W. C. WILLIAMS

"Já que você
carrega

uma
conhecida

verdade
Mais

conhecida como
Desejo

Pra quê
vesti-la de

adornos
ou torcê-la até

ficar
sob medida

para ser
entendida?

Arrisque-se -
Nariz

olhos orelhas
língua

sexo e
cérebro

atirados ao
público

Confie
no seu

próprio
taco

Escute
você mesmo

Fale com
você mesmo

e outros
o farão

felizes,
aliviados

de um fardo -
seu próprio

pensar
e pesar.

O que era
Desejo

terá ainda
mais brilho."

23 de Novembro, 1984

 

WHY IS GOD LOVE, JACK?

Because I lay my
head on pillows,
Because I weep in the
tombed studio
Because my heart
sinks below my navel
because I have an
old airy belly
filled with soft
sighing, and
remembered breast
sobs - or
a hand's touch makes
tender -
Because I get scared -
Because I raise my
voice singing to
my beloved self -
Because I do love thee
my darling, my
other, my living
bride
my friend, my old lord
of soft tender eyes -
Because I am in the
Power of life & can
do no more than
submit to the feeling
that I am the One
Lost
Seeking still seeking the
thrill - delicious
bliss in the
heart abdomen loins
& thighs
Not refusing this
38 yr. 145 lb. head
arms & feet of meat
Nor one single Whitmanic
toenail contemn
nor hair prophetic banish
to remorseless Hell,
Because wrapped with machinery
I confess my ashamed desire.

New York, 1963

 

POR QUÊ DEUS É AMOR, JACK?

Porque eu me deito
sobre este leito,
Porque eu choro
numa sala sepultada
Porque meu coração
naufraga
Por causa dessa
minha graça
de pança e seus
suaves suspiros -
conhecido
soluçar de meu seio
serenado pelo
toque -
Porque eu me assusto -
Porque ergo a minha
voz e canto
ao meu eu amado -
Porque vos amo sim
meu querido,
meu outro, minha
noiva viva
meu amigo, amo antigo
de suaves olhos -
Porque pertenço ao
Poder da vida & não
posso fazer nada
senão ceder à
sensação de ser um
Perdido
Correndo ainda atrás da
excitação - gozo
delicioso do
coração abdômen quadris
& coxas
Sem recusar meus
38a. 65kg de cabeça
tronco & membros
Nem nenhumazinha de minhas
unhas Whitmaníacas
Nem banir meus cabelos
pro inferno eterno,
Porque sob este manto mecânico
Confesso meu desejo inconfessável.

Nova York, 1963

 

GREGORY CORSO'S STORY

The first time I went
to the country to New Hampshire
when I was about eight
there was a girl
I always used to paddle with a plywood stick.

We were in love,
so the last night there
we undressed in the moonlight
and showed each other our bodies,
then we ran singing back to the house.

December 10, 1951

 

HISTÓRIA DE GREGORY CORSO

Na primeira vez que fui
ao campo a New Hampshire
lá pelos oito anos de idade
havia uma garota
que eu costumava amolar com um pedaço de pau.

Apaixonados,
tiramos nossas roupas ao luar
em minha noite de despedida
mostrando nossos corpos um ao outro
aí corremos cantarolando de volta pra casa.

10 de dezembro, 1951

 

AFTER DEAD SOULS

Where O America are you
going in your glorious
automobile, careening
down the highway
toward what crash
in the deep canyon
of the Western Rockies,
or racing the sunset
over Golden Gate
toward what wild city
jumping with jazz
on the Pacific Ocean!

Spring 1951

 

ATRÁS DAS ALMAS MORTAS

Para onde Oh América
é que guias o teu
glorioso automóvel,
a que acidentes te inclinas
rodovia abaixo,
nos profundos canyons
das Montanhas do Oeste,
acelerando ao sol-se-pondo
sobre o Golden Gate
no rastro de que rusga
atiras o teu jazz
sobre o oceano Pacífico!

Primavera, 1951

 

TO KEROUAC IN THE HOSPITAL

Death can make us gentle; pain will kill
The animal, subdue the aggressive
Pride of the disastrous, healthy will
The animal once dead, his soul can live.
A poet in the company of saints,
You lie and hide the cigarette you puff.
As if in a familiar dream: You, patient,
Weary of the hospital of life,
Have known eternal illness.
I wish
You, Jack, not well, because there always is
A wound; and the most deeply cut of such
Is this futility of consciousness,
That hoping for your joy is vanity

I wish you nothing but necessity.

December 1945

 

A KEROUAC NO HOSPITAL

Gentis nos faz a morte; a dor que mata
a besta abate o hostil orgulho do destino
de saúde e desatino
Morta a besta, sua alma está liberta.
Um poeta na companhia de santos,
você deita e esconde o fumo que bafora.
Como num sonho conhecido: você,
exausto do hospital da vida,
conheceu a enfermidade eterna.
Não desejo,
Jack, que você melhore, pois há sempre
uma ferida; cujo corte mais profundo
é a consciência fútil da espera
vaidosa pela sua felicidade

Eu lhe desejo apenas necessidade.

Dezembro, 1945

 

*

 

Traduções: Reuben da Cunha Rocha

 

*

Irwin Allen Ginsberg (1926 -1997), poeta norte-americano, expoente da Geração Beat. Descobriu a poesia ainda na adolescência; após ingressar na Universidade de Colúmbia, fez amizade com jovens poetas e delinquentes como Jack Kerouac, interessados em literatura, filosofia oriental, drogas e formas alternativas de vida, distintas do american way of life. Nessa época, o autor escreve os seus primeiros poemas, frequenta bares gays no Greenwich Village e tem affairs homossexuais. Em 1955, ganhou notoriedade com o seu poema Howl (Uivo), considerado na época obsceno. Em Kaddish, outro poema longo desse período, aborda a loucura e morte de sua mãe. Nos anos seguintes, conhece o budismo, viaja por vários países e se apaixona por Peter Orlovsky, que foi seu companheiro por 30 anos. Durante a década de sessenta, aproximou-se do movimento hippie e participou de protestos contra a guerra do Vietnã. Junto com a poeta Anne Waldman criou uma escola de poesia e participou de eventos multiculturais até a sua morte, aos 71 anos, em Nova York.

*

 

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