ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ANTONIN ARTAUD


Tutuguri - Le Rite du Soleil Noir

 Et en bas, comme au bas de la pente amère, 
cruellement désespérée du cour, 
s'ouvre le cercle des six croix, 
              très en bas, 
comme encastré dans la terre mère, 
désencastré de l'étreinte immonde de la mère
              qui bave. 

La terre de charbon noir 
est le seul emplacement humide 
dans cette fente de rocher. 

Le Rite est que le nouveau soleil passe par sept points
              avant d'éclater à l'orifice de la terre. 

Et il y a six hommes, 
un pour chaque soleil, 
et un septième homme 
qui est le soleil tout 
              cru 
habillé de noir et de chair rouge. 

Or, ce septième homme 
est un cheval, 
un cheval avec un homme qui le mène. 

Mais c'est le cheval 
qui est le soleil 
et non l'homme. 

Sur le déchirement d'un tambour et d'une trompette 
              longue, 
étrange, 
les six hommes 
qui étaient couchés, 
roulés à ras de terre, 
jaillissent successivement comme des tournesols,
non pas soleils mais sols tournants, 
des lotus d'eau, 
et à chaque jaillissement 
correspond le gong de plus en plus sombre 
              et rentré 
              du tambour 
jusqu'à ce que tout à coup on voie arriver au grand galop,
avec une vitesse de vertige, 
le dernier soleil, 
le premier homme, 
le cheval noir avec un 
              homme nu, 
              absolument nu 
              et vierge 
              sur lui. 

Ayant bondi, ils avancent suivant des méandres circulaires 
et le cheval de viande saignante s'affole 
et caracole sans arrêt 
au faîte de son rocher 
jusqu'à ce que les six hommes 
aient achevé de cerner 
complètement 
les six croix. 

Or, le ton majeur du Rite est justement 

              L'ABOLITION 
              DE LA CROIX. 

Ayant achevé de tourner 
ils déplantent 
les croix de terre 
et l'homme nu 
sur le cheval 
arbore 
un immense fer à cheval 
qu'il a trempé dans une coupure de son sang. 

   
paru en 1925

 

Tutuguri - O Rito do Sol Negro

E lá embaixo, no pé da encosta amarga, 
cruelmente desesperada do coração, 
abre-se o círculo das seis cruzes 
              bem lá embaixo 
como se incrustada na terra amarga 
desincrustada do imundo abraço da mãe
              que baba. 

A terra do carvão negro 
é o único lugar úmido 
dessa fenda de rocha. 

O Rito é o novo sol passar através de sete pontos antes de explodir
              no orifício da terra. 

Há seis homens, 
um para cada sol 
e um sétimo homem 
que é o sol 
              cru 
vestido de negro e carne viva. 

Mas este sétimo homem 
é um cavalo, 
um cavalo com um homem conduzindo-o. 

Mas é o cavalo 
que é o sol 
e não o homem. 

No dilaceramento de um tambor e de uma trombeta longa
estranha, 
os seis homens 
que estavam deitados 
tombados no rés do chão, 
brotaram um a um como girassóis,
não sóis 
porém solos que giram,
lótus d'água,  
e a cada um que brota 
corresponde, cada vez mais sombria
                         e refreada
                         a batida do tambor

até que de repente chega a galope, a toda velocidade
o último sol
o primeiro homem,
o cavalo negro com um

                         homem nu,
                         absolutamente nu
                         e virgem
                         em cima.

Depois de saltar, eles avançam em círculos crescentes
e o cavalo em carne viva empina-se
e corcoveia sem parar
na crista da rocha
até os seis homens
terem cercado
completamente
as seis cruzes.

Ora, o tom maior do Rito é precisamente

A ABOLIÇÃO
DA CRUZ

 

Quando terminam de girar
arrancam
as cruzes do chão
e o homem nu
a cavalo
ergue
uma enorme ferradura
banhada no sangue de uma punhalada.

 

Tradução: Claudio Willer

 

 

Poemas em glossolalia

 

ratara ratara ratara
atara tatara rana

otara otara katara
otara retara kana

ortura ortura konara
kokona kokona koma

kurbura kurbura kurbura
kurbata kurbata keyna

pesti anti pestantum putara
pest anti pestantum putra

* * *

potam am cram
katanam anankreta
karaban kreta
tanamam anangteta
konaman kreta
e pustulam orentam
taumer dauldi faldisti
taumer oumer
tena tana di li
kunchta dzeris
dzama dzena di li

* * *

 

Talachtis talachtis tsapoula
koiman koima Nara
ara trafund arakulda

 

*

Antonin Artaud poeta francês, nasceu em Marselha (França), em 1896, numa família de origem grega. Desde criança, sofreu com problemas de saúde, inclusive neurológicos. Aos 19 anos, foi internado num sanatório, e aos 24 tornou-se dependente de láudano. Mudou-se para a capital francesa em 1920, ingressando nos círculos de vanguarda, tendo militado, de 1924 a 1926, no grupo surrealista. Foi ator de teatro e cinema, atuando em filmes de Abel Gance, Pabst e Fritz Lang, entre outros. Dedicou-se ao Teatro Alfred Jarry, com o qual montou peças dentro de seu projeto de um Teatro da Crueldade. Viajou ao México, onde experimentou o peyote, à Bélgica e à Irlanda, entre outros países. Esteve internado em diferentes hospitais psiquiátricos, entre os anos 30 e 40, sendo submetido a seções de eletrochoque. Em 1946, conseguiu sair em liberdade, por iniciativa de um grupo de intelectuais, liderados por Breton, morrendo dois anos depois. Publicou inúmeros volumes, entre eles Heliogábalo, o Anarquista Coroado, Viagem ao País dos Taraumaras, Para Acabar com o Julgamento de Deus, Van Gogh, o Suicidado pela Sociedade e O Teatro e Seu Duplo.

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