ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ARTHUR RIMBAUD

 

Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mar mêlée
      Au soleil

Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...

_ Jamais l' ésperance.
      
Pas d' oríetur.
Science et patience,
Le suplice est sur.

Plus de lendemain,
Braises de satin,
       Votre ardeur
    C' ést le devoir.

Elle est retrouvée!
_ Quoi? _ L' éternité.
C' est la mer mêlée
       
Au soleil.

 ---

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
        Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

- Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Vem, céu carmim,
Brasas de cetim,
           O dever
          É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
       Ao sol.

 

* * *

 

    O saisons, ô châteaux!
Quelle âme est sans défauts?

  J' ai fait la magique étude
Du Bonheur, qu' aucun n' élude.

  Salut à lui, chaque fois
Que chante le coq gaulois.

  Ah! je n' aurai plus d' envie:
Il s' est chargé de ma vie.

Ce charm a pris âme et corps,
Et dispersé les efforts.

     O saisons, ô châteaux!

L' heure de sa fuite, hélas!
Sera l' heure du trépas.

   O saisons, ô châteaux!

 

Oh estações, oh castelos!
Que alma é sem defeitos?

Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.

Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.

Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.

Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.

Ó estações, ó castelos!

Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.

Ó estações, ó castelos!

 

BAL DES PENDUES

          (fragment)

 

Dansent, dansent les paladins,
Les maigres paladins du diable,
Les squeletts des Saladins.

 

BAILE DOS ENFORCADOS

           (fragmento)

 

Dançam, dançam os paladinos,
Os magros paladinos do diabo,
Os esqueletos dos Saladinos.

 

* * *

L' étoile a pleuré rose au coeur de tes oreilles,
L' infini roulé blanc de ta nuque à tes reins
La mer a perlé rousse à tes mammes vermeilles
Et l' Homme saigné noir à ton flanc souverains.

 

A estrela chorou rósea em tuas orelhas,
O infinito rolou branco de tua nuca aos rins,
O mar perolou roxo em tuas mamas vermelhas
E o Homem sangrou negro em teus flancos senis.

 

CHANSON DE LA PLUS HAUTE TOUR

Oisive jeunesse
À tout asservie;
Par délicatesse
J' ai perdu ma vie.
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s' éprennent.

Je me suis dit: laisse,
Et qu' on ne te voi:
Et sans la promesse
De plus hautes joies.
Que rien ne t' arrête
Auguste retraite.

J' ai tant fait patience
Qu' a jamais j' oublie;
Craintes et souffrances
Aux cieux sont parties.
Et la soif malsaine
Obscurcit mes veines.

Ainsi la Prairie
À l' oubli livrée,
Grandie, et fleurie
D' encens et d' ivraies
Au bourdon farouche
De cent sales mouches.

Ah! Mille veuvages
De la si pauvre âme
Qui n' a que l' image
De la Notre-Dame!
Est-ce que l' on prie
La Vierge Marie?

Oisive jeunesse
À tout asservie
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s' éprennent!

 

CANÇÃO DA TORRE MAIS ALTA

Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.

Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.

Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.

Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.

Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?

Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora!

Traduções: Claudio Daniel

*

Jean-Arthur Rimbaud, poeta simbolista francês (1854-1891). Seu pai era militar, e a mãe, católica devota. No colégio de Charleville, sua cidade natal, aprendeu grego e latim e escreveu os primeiros versos. O Barco Bêbado, sua primeira obra-prima, foi escrita aos 16 anos. Fugindo de casa para viver em Paris, o jovem Rimbaud entregou-se à bebida, ao jogo, aos estudos esotéricos e aos entorpecentes. Seu caso amoroso com Verlaine resultou em escândalo. Após escrever Uma Temporada no Inferno (1872) e Iluminações (1874), poemas em prosa construídos numa linguagem imagética visionária, o poeta renunciou a sua arte e viajou para a África, onde se dedicou ao tráfico de armas e escravos. Contraindo séria doença, veio a falecer aos 37 anos. Rimbaud é o poeta maldito por excelência, e influenciou os surrealistas, a Geração Beat e a contracultura.

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