ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 BASILIO URIBE

   


LA MAREA DEL SILENCIO

El silencio subió y subió,
primero para salvarla,
hacerla flotar, llevarla
de un lugar a otro;
luego, cuando el mar
entró en su boca,
y no evitó sorberlo,
para atragantarla en la amargura
sorda de la sal que cuarteó
su lengua, endureció sus ojos
con cristales ciegos,
e hizo de su vida esta paja seca
que se quemará con el rastrojo.

 

A MARÉ DO SILÊNCIO

O silêncio subiu e subiu,
primeiro para salvá-la,
fazê-la flutuar, levá-la
de um lugar a outro;
logo, quando o mar
entrou em sua boca,
e não evitou sorvê-lo,
para afogá-la na amargura
surda do sal que esquartejou
sua língua, endureceu seus olhos
com cristais cegos,
e fez de sua vida esta palha seca
que se queimará com o restolho.



MATERIA DEL OLVIDO

Sabían que la vida se colmaría en exceso,
y luego se abriría en el vacío de la extinción,
y presentir esa pérdida punzaba y exaltaba
la plenitud del presente, que variaba
en cada instante.

Los datos inasibles que preceden el otoño
se habían confundido en aquello que pujaba
hasta madurar, y se hendiría igual
que una granada en el jardín hacia la tarde,
cuando el esplendor ya no puede soportar
la embriaguez de su propio latido.

Todo eso lo miraban sin temor, llevados
por la inmensidad casi abstracta, sabiendo
que ardería hasta encandecer;
ellos, como muchos, materia del olvido.

 

MATÉRIA DO ESQUECIMENTO

Sabiam que a vida transbordaria em excesso,
e logo se abriria no vazio da extinção,
e pressentir essa perda punçava e exaltava
a plenitude do presente, que variava
a cada instante.

Os dados inacessíveis que precedem o outono
haviam se confundido naquilo que pulsava
até amadurecer, e que se romperia como
uma granada no jardim rumo à tarde,
quando o esplendor já não pode suportar
a embriaguez de sua própria pulsão.

Olhavam tudo isso sem temor, levados
pela imensidão quase abstrata, sabendo
que arderia até incandescer;
eles, como muitos, matéria do esquecimento.

 

OBJETO PSICOLÓGICO

Ese era el cuadro: no podría dejar de verse
vuelto objeto psicológico. El entomólogo
observaría al insecto, puestos electrodos
diminutos en las antenas. Exploraría su psiquis,
ese almacén de productos en sombras
que propondrían una madurez de hongos,
y otros que encogerían, resecos; donde tal vez unos pocos
aguardaran frescos hasta el momento
de consumirse en la luz de un solo día,
de una hora, de un minuto.
Él estaría en la puerta, mirando el cuadro,
cuidando los límites y la aduana
que no debían ser traspasados.
Ni siquiera en sueños.


OBJETO PSICOLÓGICO

Esse era o quadro: não poderia deixar de se ver
transformado em objeto psicológico. O entomólogo
observaria o inseto, diminutos eletrodos
postos nas antenas. Exploraria sua psique,
esse armazém de produtos em sombras
que proporiam uma maturidade de fungos,
e outros que encolheriam, ressequidos; onde talvez uns poucos
aguardassem frescos até o momento
de se consumir na luz de um só dia,
de uma hora, de um minuto.
Ele estaria na porta, olhando o quadro,
cuidando dos limites e da alfândega
que não deviam ser ultrapassados.
Nem sequer em sonhos.

*

Traduções: Ana Maria Ramiro

 

*

 

 

Basilio Uribe (1916-1997) nasceu em Buenos Aires, Argentina. Graduou-se em Engenharia Civil pela Universidade de Buenos Aires, em 1942. Foi diretor da Escola Superior de Jornalismo, em 1961, fundador do Centro de Pesquisas em Desenho Industrial, em 1963, e presidente da Associação de Críticos de Arte de Buenos Aires (1971-1974). Exerceu ainda cargos de docência e foi colaborador de várias publicações como El Clarín, Criterio, La Gaceta de Tucumán, entre outras. Recebeu vários prêmios, como o prestigiado Konex e os prêmios de poesia da 1ª Bienal de Mar del Plata (1980) e da Câmara Argentina do Libro (1981). O autor faleceu em 1997, em Buenos Aires.

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