ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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Bernardo Ortíz de Montellano

 

 

 

por

 

 

 

 

Adriana Zapparoli

 

 

Tradução e seleção

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

 

 

ESE BUSTO DE YESO

ESSE BUSTO DE GESSO

 

 

Ese busto de yeso que respira

Esse busto de gesso que respira

lunas de noche antiguas y metales

luas de noites antigas e metais

rodillas mutiladas desiguales

meniscos mutilados desiguais

que si la noche cubre el sueño mira.

que se a noite cobre, o sono avista.

 

 

Esa mano de flores que conspira

Essa mão de flores que conspira

al abrir y cerrar dedos cristales,

ao abrir e fechar falanges cristalinas,

sonrisa y caracol en espirales,

sorriso e caracol em espirais,

ajeno mar donde la voz expira.

estranho mar onde a voz expira.

 

 

Estos ojos de verdes vegetales

Estes olhos de verdes vegetais

que el fuego muerto de los goces gozan

que o fogo morto dos gozos gozam

y a lo oscuro me miran inmortales.

e no escuro me olham imortais.

 

 

Y esta sombra de luz donde se rozan

E esta sombra de luz onde se roçam

las lamas y los cuerpos reposan.

as lâminas e os corpos repousam.

Vivos sueños, bellezas funerales.

Vivos sonhos, belezas funerais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

 

 

PARAISO DEL AIRE

PARAÍSO DE AR

 

 

Paraíso del aire congelado,

Paraíso de ar congelado,

muerte de cielo y tierra celadores.

morte de céu e terra zeladores.

¿De qué color los ojos? Los colores.

Qual é a cor dos olhos? As cores.

más por su vibración que por su grado.

mais por sua vibração que por seu intervalo.

 

 

Y más por la mirada miradores

E mais olhar por perspectivas

que por la luz los ojos que he soñado

que pela luz os olhos sonhados

cuerpo que flota sin pesar, velado

corpo que flutua sem pesar, velado

en un clima de puros impudores.

em um clima de puros impudores.

 

 

¿Es la sonrisa, paladar de voces?

É o sorriso, palato de vozes?

¿La mano que agoniza y que suspira?

A mão que agoniza e que suspira?

¿La lentitud con que la mata el fuego?

A lentidão com que mata o fogo?

 

 

Oigo lo que no dice si respira:

Ouço o que não disse se respira:

Es toda la memoria de mis goces

É toda a memória de meus gozos

que sólo yo contemplo a solas ciego.

que sozinho eu contemplo a sós cego.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

 

 

SUEÑO DE AMOR PERFECTO

SONHO DE AMOR PERFEITO

 

 

 

Amor de sueño amante que otro cielo

Amor de sonho amante que outro céu

revive en su interior desdoblamiento,

revive em seu interior desdobramento,

unión la de los ojos y el aliento

união dos olhos e o alento

que las manos aparta de su celo.

que as mãos apartam de seu zelo.

 

 

Amor de cuerpo y sombra ceniciento

Amor de corpo e obscuro cinzento

de paisajes recónditos al hielo

de cenários recônditos de gelo

de color y de aroma y de desvelo

de cor e de eflúvio e de desvelo

puro como la muerte y como el viento.

puro como a morte e como o vento.

 

 

amor que de la carne vuela al sueño

amor que da carne voa ao sono

y en él imagen que desnuda anude

e em imagem que desnuda uni

la ribera sin ámbito de cuerpo.

a margem sem âmbito do corpo.

 

 

Amante que en su sombra se desnude

Amante que em sua sombra se desnude

y en su sangre redima lo que fluye

e em seu sangue redima o que flui

y descubra en su sueño lo que sueño.

e descubra em seu sonho o que sonho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

 

 

NO LA AMANTE

NENHUMA AMANTE

 

 

No la amante, el amor. La singladura

Nenhuma amante, o amor. A singradura

de la noche que arrastra fuego frío

da noite que arrasta fogo frio

por las venas del sueño, poderío

pelas veias do sonho, poderio

de la encendida palidez oscura.

da incendida palidez escura.

 

 

El amor, no la amante. El goce mío,

O amor, nenhuma amante. O meu gozo,

la imagen que desbasto. La onda pura

a imagem que devasto. A onda pura

que invade entre las ruinas mi locura

que invade entre as ruínas de minha loucura

de tallar en diamante lo sombrío.

de entalhar em diamante o assombroso.

 

 

No la amante, el amor que le dio la vida.

Nenhuma amante, o amor que lhe deu a vida.

Lo que mi mano roza y estos ojos

O que minha mão roça e estes olhos

desojan, lo que nace de la herida

desolham o que nasce da ferida.

 

 

soledad en la noche de mi sueño;

Sozinho na noite de meu sonho;

¡encarnación que vive entre despojos,

encarnação que vive entre despojos,

de la que soy - oh dulce sangre - dueño!

da que sou - oh doce sangue - dono!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

 

 

TIEMPO

TEMPO

 

 

Porque el tiempo se mide, no se cuenta,

Porque o tempo se mede, não se conta,

su luz a la distancia sobrevive,

sua  luz a distância sobrevive,

el aire pierde espacio en la tormenta

o ar perde espaço na tormenta

y en el suelo extraño se percibe.

e em terra estrangeira percebível.

 

 

Porque el tiempo, se goza, no se cuenta

Porque o tempo, se goza, não se conta

la secreta aventura que se vive,

a secreta desdita que se vive,

burlas del horror y sed nos alimenta

zombarias de horror e sede nos alimenta

y en alta noche amor su mano escribe.

e em alta noite, amor, sua mão redige.

 

 

Cuando en los ojos de la infancia advierto

Quando os olhos da infância advertem

el color sin colores de la vida

a cor sem cores da vida

que al agua de los años diluye,

que a água dos anos dilui,

 

 

busca mi sed el agua que no ha muerto,

busca água minha sede que não morre,

que aquí en la soledad de su guarida

que aqui na solidão de sua guarida

el alma se hace, el cuerpo se destruye

a alma se torne, o corpo se destrói.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

Tu

Una historia. Dos letras

Uma história. Duas letras

que bordaron tus manos en mi vida.

que bordaram tuas mãos em minha vida.

¡Abecedario de las cosas muertas

Abecedário das coisas mortas

en el pañuelo blanco de los días!

no lenço branco dos dias!

 

 

 

 

 

 

 

Bernardo Ortíz de Montellano

Adriana Zapparoli

Trompo

Pião

El trompo que gira músicas menores

O pião que gira músicas menores

movido, sin tregua, por tenue cordón,

movido, sem trégua, por tênue cordão,

el trompo de siete colores

o pião de sete cores

¿no es un corazón?

não é um coração?

 

 

 



 

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Bernardo Ortiz de Montellano (1899 - 1949) nasceu e morreu na Cidade do México. Estudou na Escola Nacional Preparatória. Trabalhou no Ministério da Educação Pública. Em 1928, fundou com Bernard J. Gastelum, Jaime Torres Bodet e Enrique Gonzalez Rojo, da revista "Contemporânea", da qual foi diretor por três anos. Divulgou a poesia indígena no México. "Interpretando seu significado espiritual, mais do que o seu conteúdo histórico." Em "Figura, amor e morte" de Amado Nervo (1943), mais do que uma biografia, alcançou um retrato evocativo do poeta. No campo da biografia também entra no livro "Sombra e Luz", de Ramón López Velarde (1946). Entre seus ensaios são particularmente interessantes: Literatura indígena e colonial mexicana (1946), Literatura da Revolução e Literatura Revolucionária (1930). Mas a sua importância reside em sua poesia. Seu livro mais importante é "Sonho e Poesia" (1952), um conjunto de cinco livros anteriores. Uma parte considerável de sua obra permanece inédita.

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