ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

CÉSAR VALLEJO - II

 

 

INTENSIDAD Y ALTURA

Quiero escribir, pero me sale espuma,
quiero decir muchísimo e
me atollo ;
no hay
cifra hablada que no sea suma,
no hay pirámide
escrita
, sin cogollo.

Quiero ecribir, pero me siento puma ;
quiero laurearme, pero
me encebollo.
No hay toz hablada,
que no llegue a bruma
,
no hay dios ni hijo de dios, sin desarrollo.

Vámo-nos, pues, por eso, a comer yerba,
carne de llanto, fruta de gemido,
nuestra
alma melancólica en conserva
.

Vámonos ! Vámosnos ! Estoy herido ;
Vámonos a
beber lo ya bebido,
Vámonos, cuervo, a
fecundar tu
cuerva.

 

INTENSIDADE E ALTURA

Quero escrever, mas me sai espuma,
quero
dizer muitíssimo e me atolo;
não fala cifrada que não seja suma,
não pirâmide escrita, sem
refolho. 

Quero escrever, porém me sinto puma;
coroar-me de
louros, mas me encebolo.
Não toco falado que não chegue a bruma,
Não deus ou filho de deus, sem
desenrolo.

Vamos, então, por isso, comer erva,
carne de pranto, fruta de gemido,
nossa alma melancólica em conserva
.

Vamo-nos! Vamo-nos! Estou ferido;
Vamos a
beber o bebido,
Vamo-nos,
corvo, fecundar tua corva
.

 

DE PURO CALOR TENGO FRÍO...

¡De puro calor tengo frío,
hermana Envídia !
Lamen
mi sombra leones
e el ratón
me muerde el nombre,
!
madre alma
mia ! 

!Al borde del fondo voy,
cuñado
Vício !
La oruga tãne su
voz,
e la
voz tãne su oruga,
¡
padre
cuerpo mio!

¡Está de frente mi amor,
nieta Paloma!
De rodillas,
mi terror
e de cabeza, mi angustia,
¡
madre alma
mia!

¡Hasta que un día sin dos,
esposa Tumba!
Mi último hierro dé el son
de
una víbora que duerme,
¡
padre
cuerpo mio!

 

DE PURO CALOR TENHO FRIO

De puro calor tenho frio
irmã Inveja!
Leões lambem minha sombra
e o rato me morde o nome,
mãe alma minha

À beira do fundo vou,
cunhado Vício!
A
lagarta tange sua voz,
e a
voz tange sua lagarta,
pai corpo meu
!

Está de frente meu amor,
neta Pomba!
De
joelhos, meu terror
e de cabeça, minha angustia,
mãe alma minha
!

Até que um dia sem dois,
esposa Tumba,
meu último ferro ressoe
de uma
víbora que dorme,
pai corpo meu
!

 

ME VIENE, HAY DIAS, UNA GANA UBÉRRIMA, POLÍTICA...

Me viene, hay dias, una gana ubérrima, política,
de
querer, de besar al cariño en sus dos rostros,
y
me viene de lejos um querer
demonstrativo, otro querer amar, de grado o fuerza,
al
que me odia, al que rasga su papel, al muchachito,
a la
que llora por el que lloraba,
al rey del vino, al esclavo del
água,
al
que ocultóse en su ira,
al
que suda, a que pasa, al que sacude su persona en mi alma.
y quiero,
por lo tanto, acomodarle
al
que me habla, su trenza ; sus cabellos, al soldado;
su
luz al grande ; su grandeza al chico.
quiero panchar directamente
un pañuelo al
que no puede llorar
y, cuando estoy
triste o me duele la dicha,
remendar a os ninõs e los gênios
.

Quiero ayudar al bueno a ser su poquillo de malo
y
me urge estar sentado
a la diestra del zurdo, y
responder al mudo,
tratando de serle
útil en
en lo
que puedo y también quiero muchísimo
lavarle al cojo el pie,
y ayudarle a
dormir al tuerto próximo
.

!Ah querer, éste, mío, éste, el mundial,
interhumano y parroquial,
provecto !
 
Me viene a pelo,
desde el cimiento, desde la ingle pública,
y, viniendo de lejos, da
ganas de besarle
la bufanda al
cantor,
y al
que sufre, besarle en su sartén,
al sordo, en su
rumor craneano, impávido;
al
que me dá lo que olvidé en mi seno
,
en su Dante, en su Chaplin, en sus hombros.

Quiero, para terminar,
cuando estou al borde
célebre de la violencia
o lleno de pecho el corazón, querría
ayudar a reír al
que sonríe,
ponerle un pajarillo al
malvado en plena nuca,
cuidar a los enfermos enfadándolos,
comprar al vendedor,
ayudarle a
matar o matador - cosa terríble -
y quisiera yo
ser bueno conmigo
en
todo
.

 

ME VEM, HÁ DIAS, UMA VONTADE UBRRIMA, POLÍTICA...

Me vem, há dias, uma vontade ubérrima, política,
de
querer, de beijar o carinho em seus dois rostos,
e
me vem de longe um querer
demonstrativo, outro querer amar, de grau ou força,
ao
que me odeia, ao que rasga seu papel, ao menino,
ao
que chora pelo que chorava,
ao
rei do vinho, ao escravo da água,
ao
que ocultou-se em sua ira,
ao
que sua, ao que passa, ao sacode sua pessoa em minha alma.
E quero,
portanto, dar guarita
ao
que me fala, à sua trança, aos seus cabelos, ao soldado;
Quero,
pessoalmente, passar a ferro
o lenço do que não pode chorar
e, quando estou triste e me dói a sentença
remendar os enjeitados e os gênios
.

Quero ajudar o bom a ser o seu pouquinho de mal
e me urge estar sentado
à
direita do canhoto e responder ao mudo,
tratando de ser-lhe
útil no
que posso e também quero muitíssimo
lavar os pés do coxo,
e
ajudar o vesgo, meu próximo, a dormir
.

Ah! querer, este meu, este, mundial,
inter-humano e
paroquial, maduro!
Me vem no ponto,
desde as fundações, desde a virilha pública,
e, vindo de
longe, dá vontade de beijar
o cachecol do cantor,
a
frigideira do que sofre,
ao
surdo em seu impávido rumor craniano;
ao
que me dá o que esqueci em meu âmago,
em seu Dante, em seu Chaplin, em seus ombros
.

E para terminar, quero,
quando estou à beira da célebre violência
ou pleno de peito o coração, queria
ajudar o que sorri a escarnecer,
por um passarinho bem na nuca do malvado,
Cuidar dos enfermos, enfadando-os,
comprar o vendedor,
ajudar a matar o matador - coisa terrível -
e quisera
ser bom comigo mesmo
em tudo
.

 
 

Tradução: Antônio Moura.

 *

César Vallejo (1893-1938), poeta peruano de origem indígena. Viveu na França a partir de 1923. Sua obra, de acentuada experimentação estética, abordou temas sociais e políticos de seu tempo, como a guerra civil espanhola. Publicou, entre outros títulos, Os arautos negros (1918), Trilce (1922) e Poemas humanos (1939).

 *

Leia outras traduções de Vallejo.

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