ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 CHARLES RESNIKOFF

 

 

A SON WITH A FUTURE

 

When he was four years old, he stood at the window during a

thunderstorm. His father, a tailor, sat on the table sewing.

He came up to his father and said, “I know what makes

thunder: two clouds knock together.”

When he was older, he recited well-known rants at parties.

They all said that he would be a lawyer.

At law school he won a prize for an essay. Afterwards, he

became the chum of an only son of rich people. They

were said to think the world of the young lawyer.

The Appellate Division considered the matter of his disbarment.

His relatives heard rumours of embezzlement.

 

When a boy, to keep himself at school, he had worked in a

drug store.

Now he turned to this half-forgotten work, among perfumes

and pungent drugs, quiet after the hubble-bubble of the

courts and the search in law books.

He had just enough money to buy a drug store in a side

street.

Influenza broke out. The old tailor was still keeping his shop

and sitting cross-legged on the table sewing, but he was

half-blind.

He, too, was taken sick. As he lay in bed he thought, “What a

lot of money doctors and druggists must be making; now

is my son’s chance.”

They did not tell him that his son was dead of influenza.

 

 

 

UM MENINO DE FUTURO

 

Quando tinha quatro anos, ele restou à janela durante uma

tempestade. Seu pai, um alfaiate, sentado à máquina cosendo.

Ele acercou-se do pai e disse, “eu sei o que provoca o

trovão: duas nuvens se chocando”.

Quando mais crescido recitava velhas arengas nos encontros.

Todos diziam que seria um advogado.

Na Faculdade de Direito ganhou um prêmio por um ensaio. Após o que

tornou-se chapa de um filho único de gente rica. Disseram

que eles aprontaram umas boas para se firmarem como advogados.

A Corte de Apelação apreciou a matéria de sua interdição.

Os parentes ouviram rumores de peculato.

 

Quando garoto, para se manter na escola, tinha trabalhado

numa farmácia.

Agora ele retornava a seu emprego quase esquecido, entre perfumes

e tônicos acres, logo após o rufa-rufa das

cortes e as consultas aos códigos.

Ele tinha a conta exata de comprar uma farmácia numa

travessa.

A gripe espanhola deslanchou. o velho alfaite ainda mantinha sua loja

e sentava-se, pernas cruzadas á máquina de costura, mas estava

meio cego.

E também andava adoentado. Quando recolhido à noite pensava, “Que

dinheirama médicos e boticários devem estar fazendo; É a vez

do meu filho”.

Eles não lhe contaram que o menino morrera de gripe espanhola.

 

 

Tradução: Ruy Vasconcelos



 

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Charles Resnikoff (1894-1976), poeta norte-americano, ligado ao grupo objetivista. Nasceu num gueto judeu de Nova York, numa família de origem russa. Amigo de poetas como Zukofsky e George Oppen, viveu em relativa obscuridade, publicando pouco. Antes de seu falecimento, revisava as provas de seus Collected Poems.

*

 

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