ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

EDUARDO PONDAL

 

 

 

Das africanas prayas veciñas,
    
Como costuman,
     Retornarán,
As amabres e
doces anduriñas;
     E pol-o
bardo,
     Preguntarán.

     Mais os curutos,
     En donde os
pinos
     Queixárse sóen,
     C'o
vento soán,
    
sabedores
     Dos seus destinos,
Cal quen teme decir esquiva nova,
    
Nada dirán.

 

 

Das africanas praias vizinhas,
     Como costumam,
     Retornarão
As
amáveis e doces andorinhas;
     E
pelo poeta
     Perguntarão. 

     Porém os cumes,
    
Bem onde os pinhos
     Soem queixar-se,
    
Com o vento suão,
    
sabedores
     Dos seus destinos,
Qual quem teme dizer outra desculpa,
    
Nada dirão.

in 'Queixumes dos pinhos', 1886

 

 

         Morrer en brando leito,
     
Entre molentes brondas,
      Rodeados d'
amigos,
      Q'o pracer
nos recordan;
      De tímidas doncellas,
      Imbeles e chorosas,
     
Que pra mayor dozura,
      Na nosa
última hora,
      Ó
redor de nos ceiben
      Lirios e brandas
rosas;
Certo he desparecer cal vírgen tímida,
     
Brandamente, e sin gloria. 

         Oh' quen morrer poidera,
     
Coma o forte Leónidas;
     
Envolto en duro ferro,
      N'outras rudas Thermópilas;!
     
Por unha pátria escura
      D'escravos e d'ilotas;
      E
deixar, cal cometa,
     
Longo rastro de gloria! 

E caíra, non prono,
      Coa faz a
terra volta,
     
Mais as turmas conversa,
      Audaz e miazosa;
Ainda apreixando o rutilante ferro,
     
Que verte gota á gota

         De modo, q'o viandante,
      Vendo con gran zozobra
      Crubir a
dura terra
      A cinza poderosa,
Dixéra con
espanto: -Certamente
      Este era grande cousa! 

 

         Morrer em brando leito,
      Entre macias fronhas,
      Rodeados de
amigos,
     
Que o prazer nos recordam;
      De tímidas
donzelas,
     
Tão frágeis e chorosas,
     
Que pra maior doçura,
     
Em nossa última hora,
      Ao
redor nos colocam
     
Lírios e belas rosas;
Isto é sair-se como virgem tímida.
     
Brandamente, e sem glória

         Oh, quem dera morrer
      Como o forte Leônidas;
     
Envolto em duro ferro,
      Noutras rudes Termópilas!
     
Por uma pátria escura
      De escravos e de ilotas;
      E
deixar, qual cometa,
     
Longo rastro de glória

E cairia, não inclinado,
     
Com a face na terra,
     
Mas às tropas voltada,
      Audaz e
corajosa;
Ainda empunhando o rutilante ferro,
     
Que verte gota a gota

         De modo que o viajante,
      Vendo
com grande assombro
      Cobrir a dura terra
      A cinza poderosa,
O dirá
com espanto: - Certamente
      Este era grande coisa!

 in 'Queixumes dos pinhos', 1886

  *

 

Traduções: Fábio Aristimunho

 *


Eduardo Pondal (1835-1917). Cursou Filosofia e Medicina, vindo a abandonar prematuramente a carreira de médico para se dedicar à literatura. Com uma poesia fundamentalmente épica, procurou aliar a busca pelos mitos autóctones com o resgate da língua e da cultura galegas. Empreendeu uma infindável revisão de sua obra, mesmo das composições já publicadas. De sua obra destaca-se o livro Queixumes dos pinos (1886), revisão de um livro anterior com poemas em galego e castelhano.

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