ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 ELIZABETH BISHOP


 

 

NORTH HAVEN

 

In Memoriam: Robert Lowell

 

I can make out the rigging of a schooner

a mile off; I can count

the new cones on the spruce. It is so still

the pale bay wears a milky skin; the sky

no clouds except for one long, carded horse's tail.

 

 

The islands haven't shifted since last summer,

even if I like to pretend they have

--drifting, in a dreamy sort of way,

a little north, a little south, or sidewise,

and that they're free within the blue frontiers of bay.

 

This month, our favorite one is full of flowers:

Buttercups, Red Clover, Purple Vetch,

Hackweed still burning, Daisies pied, Eyebright,

the Fragrant Bedstraw's incandescent stars,

and more, returned, to paint the meadows with delight.

 

The Goldfinches are back, or others like them,

and the White-throated Sparrow's five-note song,

pleading and pleading, brings tears to the eyes.

Nature repeats herself, or almost does:

repeat, repeat, repeat; revise, revise, revise.

 

Years ago, you told me it was here

(in 1932?) you first "discovered girls"

and learned to sail, and learned to kiss.

You had "such fun," you said, that classic summer.

("Fun"--it always seemed to leave you at a loss...)

 

You left North Haven, anchored in its rock,

afloat in mystic blue...And now--you've left

for good. You can't derange, or re-arrange,

your poems again. (But the Sparrows can their song.)

The words won't change again. Sad friend, you cannot change.

 

 

NORTH HAVEN

 

In Memoriam: Robert Lowell

 

Posso distinguir o apito de uma escuna

uma milha ao longe; posso contar

as novas pinhas no espruce. Há tanta calma

que a pálida baía veste uma pele leitosa; o céu

sem nuvens senão por um longo rabo de cavalo em cartolina.

 

 

As ilhas não se moveram desde o verão passado,

Mesmo que eu pretenda que sim

—À deriva, de uma forma onírica,

A direita, a esquerda, para os lados,

E que são livres na fronteira azul da baía.

 

Este mês, nossa favorita está cheia de flores:

Botões d'ouro, trevos, boas-noites,

Orquídeas flamejantes, irisadas margaridas, eufrásias,

As flagrantes estrelas incandescentes das rubis

E mais, de volta, para pintar o prado de delícias.

 

Os pintassilgos voltaram, ou outros como eles,

E a canção de cinco notas do pardal-de-gola-branca,

Rogando e rogando, rasa os olhos de lágrimas.

A natureza se repete, ou quase:

Repete, repete, repete; revisa, revisa, revisa.

 

Anos atrás, tu me disseste que foi aqui

(Em 1932?) que "descobriste as meninas"

E aprendeste a velejar, aprendeste a beijar.

Fora “tão bom”, disseste, aquele clássico verão.

(“Bom” – sempre parecia te deixar no prejuízo...)

 

Deixaste North Haven, ancorada em suas rochas,

Flutuando em místico azul... e agora te foste

De vez. Não podes embaralhar, ou re-arranjar

Teus poemas de novo. (Mas os pardais os cantam.)

As palavras já não mudarão. Doce amigo, já não podes mudar.

 

 

Tradução: Ruy Vasconcelos



 

*

Elizabeth Bishop (1911-1979) nasceu em Massachusetts (Estados Unidos). É considerada um dos mais importantes poetas de língua inglesa do século XX. As viagens que realizou ao Brasil, especialmente ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais, marcaram sua vida e obra, e a escritora se referiu a elas em numerosos poemas, contos e cartas. Entre outros títulos, publicou North & South (1946), A Cold Spring|Poems: North & South — (1955) e Questions of Travel (1965), com numerosos poemas feitos no Brasil.

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