ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

GEORGE OPPEN

 

FIVE POEMS ABOUT POETRY /

CINCO POEMAS SOBRE POESIA

1.
THE GESTURE

The question is: how does one hold an apple
Who likes apples

And how does one handle
Filth? The question is

How does one hold something
In the mind which he intends

To grasp and how does the salesman
Hold a bauble he intends

To sell? The question is
When will there not be a hundred

Poets who mistake that gesture
For a style.

1.
O GESTO

A questão é: como alguém pega uma maçã
Alguém que gosta de maçãs  

E como alguém manuseia
Imundície? A questão é:

Como alguém pega algo
Na mente que pretende

Segurar e como o vendedor
Pega o troço que ele tenciona

Vender? A questão é
Quando não mais haverá uma centena

De poetas que confundem esse gesto
Com estilo.

 

2.
THAT LAND


Sing like a bird at the open
Sky, but no bird
Is a man-

Like the grip
Of the Roman hand
On his shoulder, the certainties

Of place
And of time

Held him, I think
With the pain and the casual horror
Of the iron and may have left
No hope of doubt

Whereas we have won doubt
Form the iron itself

And hope in death. So that
If a man lived forever he would outlive
Hope. I imagine the open sky

Over Gethsemane,
Surely it was this sky.



2.
AQUELA TERRA

Cante como ave no céu
Aberto, mas nenhuma ave
É homem-

Como a pressão
Da romana mão
No ombro dele, as certezas

De lugar
E de tempo

Mantinham-no, acho
Em dor, no temor fortuito
Do ferro e pode não ter deixado
Nenhuma esperança de dúvida

Ali onde conquistamos dúvida
Do próprio ferro

E esperança, e morte. Assim que
Se um homem vivesse para sempre sobreviveria
À esperança. Imagino o céu aberto

Sobre Getsêmani,
Por certo era este céu.

 

3.
THE LITLLE HOLE

The little hole in the eye
Williams called it, the little hole

Has exposed us naked
To the world

And will not close.

Blankly the world
Looks in

And we compose
Colors

And the sense

Of home
And there are those

In it so violent
And so alone

They cannot rest.

3.
A PEQUENA COVA

A pequena cova no olho
Williams assim a chamou, a pequena cova

Nos expôs nus
Ao mundo

E não se fechará.
Lacunarmente o mundo
Observa

E compomos
Cores

E um senso

De casa
E nela há aqueles

Tão violentos e sozinhos

Que não podem descansar.

4.
PAROUSIA

Impossible to doubt the world: it can be seen
And because it is irrevocable

It cannot be understood, and I believe that fact is lethal

And man may find his catastrophe,
His Millennium of obsession.
                                              air moving.

a stone on a stone
something  balanced momentarily, in time might the lion

lie down in the forest, less fierce
and solitary

than the world, the walls
of whose future may stand forever.

 

4.
PAROUSIA  

Impossível duvidar do mundo: ele pode ser visto
E porque é irrevogável

Não pode ser entendido, e creio que esse fato é letal

E o homem talvez possa achar sua catástrofe,
Seu Milênio de obsessão.
                                              ar movente,

a pedra na pedra,
algo equilibrado momentaneamente, a tempo o leão

Pode espojar-se na floresta, menos feroz
E sozinho

Que o mundo, os muros
Cujos futuros podem firmar-se para sempre.

 

5.
FROM VIRGIL


I, says the buzzard,
I-

Mind

Has evolved
Too long

If 'life is a search
For advantage.'

'At whose behest

does the mind think?' Art
Also is not good

For us
Unless like the fool

Persisting
In his folly

It may rescue us
As only the true

Might rescue us, gathered
In the smallest corners

Of man's triumph. Parve puer. 'Begin,

O small boy,
To be born;

On whom his parents have not smiled  

No good thinks worthy of his table,
No goddess of her bed'

5.
De Virgílio

 

Eu, disse o bútio,
Eu-

A mente

Se tem desdobrado
Demais

Se  'vida é busca
de vantagem.'

'Às expensas de quem
A mente pensa?' Também

A arte não é boa
Para a gente

Salvo se como o tolo
Persistindo em sua insânia

Ela puder nos resgatar
Como só a verdade

Pode, reunidos
Na mais reles esquina

Do triunfo humano. Parve Puer... 'Começa

Ah petiz,
A nascer,

E teus pais não te sorriram

Nenhuma coisa digna de tua mesa,
Nenhuma deusa de teu leito.

 
*


Traduções: Ruy Vasconcelos.

 

  *

George Oppen (1908-1984), poeta e ativista político norte-americano, um dos criadores do movimento objetivista. Em 1929, mudou-se para Paris, onde criou uma editora que publicou a Antologia Objetivista (1932) organizada por Zukofsky, que reunia poemas de Ezra Pound, T. S. Eliot, William Carlos Williams, entre outros. Com o fracasso comercial de sua editora, Oppen retornou aos EUA em 1933. O primeiro livro de versos do poeta, Discrete Series, saiu em 1934, e valeu certa reputação a seu autor. Ainda na década de 30, Oppen ingressa no Partido Comunista dos EUA; por sua militância nessa organização, foi obrigado a exilar-se no México, em 1950, retornando a seu país oito anos depois. Obras principais: The Materials (1962), Of Being Numerous (1968), que recebeu o prêmio Pulitzer, e The Collected Poems of George Oppen (1975). Em 1990, saiu um volume com as suas cartas.

*

 

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