ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 GREGORY CORSO



 

 

SOL

(poema automático)

 

Sol hipnótico! sagrada quase eterna esfera! taça em chamas! balbuciar do dia!

Sol, solar teia de calor! seca taça tropical! sede aracníde! Sol, nãoágua!

Sol miséria sol ira sol doença sol morte sol podre sol relíquia!

Sol baixo e torto sobre o céu africano, derramado quase vazio, ampola oca, osso do   sol,pedra do sol, sol de aço, relógio de sol.

Sol dinossauro do elétrico movimento extinto e fossilizado, balbucie!

Sol, temporada das temporadas, pegar o verdadeiro peixe solar, na verde costa tomando sol como loucura.

Sol eros infernal superreal conglomeração de ira miasmática!

Sol, seres do pôr do sol chocados na desértica vida, cai!

Sol circo! tenda de hélio, apolo, rá, sol, sun, triunfem!

O sol como uma fumegante nave caiu no lago Teliphicci.

O sol como um fumegante disco gelatinoso escorreu pelos alpes Telephiccianos

O sol comanda a noite e segue a noite e comanda a noite.

O sol pode ser conduzido por uma carruagem.

O sol como um fumegante pirulito pode ser chupado.

O sol tem a forma de um dedo curvo que te chama.

O sol gira anda dança foge corre.

O sol favorece a cítrica palmeira de tuberculosos pulmões

O sol engole o lago e alpes de Teliphicci a cada ascensão.

O sol não sabe o que é gostar ou não gostar

O sol toda minha vida caiu no lago Teliphicci.

Ó buraco constante onde tudo pra lá é verdadeiramente Bizantino!

 

MINHAS MÃOS SÃO UMA CIDADE

 

minhas mãos são uma cidade, uma lira

e minha mão em chamas assovia

e minha mãe toca Corelli

         enquanto minhas mãos queimam

 

EXTRAVAGÂNCIA ITALIANA

 

O filho de um mês da Sra. Lombardi morreu

Eu vi na funerária do Rizzo

uma enrugada e roxa cabeça que não cresceu

 

Acabaram de rezar uma grande missa pra ele

Agora estão saindo

...uou, tão pequeno caixão

E dez cadillacs preto o carregando.

 

TENHO SAUDADES DE MEUS QUERIDOS GATOS

 

Minhas mãos aquareláveis agora estão sem gatos

Sentado aqui sozinho no breu

minha cabeça em forma de janela está curvada com tristes cortinas

Estou sem gatos sem vida quase

atrás de mim meu último gato enforcado na parede

morto por minha mão bêbada inchada

 E em todas outras paredes do sotão á adega

minha triste vida de gatos enforcados

 

EU SOU 25

 

Com um amor uma loucura por Shelley

Chatterton            Rimbaud

e o latido de necessidade da minha mocidade

                                      passou de ouvido a ouvido:

                 EU ODEIO VELHOS POETAS!

Especialmente velhos poetas que se retratam

que consultam outros velhos poetas

que contam sua juventude em sussurros

dizendo: -- Eu fiz esses naquela vez

                       mas isso foi naquela vez

                       foi naquela vez--

Ô eu iria, velhor que falar nunca fez,

a eles dizer: --sou seu amigo

                             o que vocês eram, através de mim

                             serão mais uma vez--

E a noite na confiança de seu lar

suas desculposas línguas arrancar

                             e seus poemas roubar.

 

TRÊS

 

1

O cantor de rua está doente

agachado na fachada, segurando o coração.

 

uma canção a menos na ruidosa noite.

 

2

Fora do muro

o envelhecido jardineiro planta suas tesouras

Um novo jovem

veio podar a cerca viva

 

3

A Morte chora porque a Morte é humana

passa o dia todo no cinema quando morre uma criança.

 

SUICÍDIO EM GREENWICH VILLAGE

 

Braços abertos

mãos pressionando pra fora da janela

Ela olha pra baixo

 Pensa em Bartok, Van Gogh

e nos desenhos do New Yorker

Ela cai

 

Tiram ela dali com um Daily News na cara

E o lojista joga água quente na calçada

 

HINO DO MAR

 

Minha mãe odeia meu mar

meu mar devo afirmar.

Eu a avisei contra isso

era o mínimo a ser dito.

Dois anos demorou

mas o mar a devorou.

 

Na beira do mar achei uma estranha

mas linda comida;

Perguntei ao mar se podia comer

e sim eu podia.

--Oh, mar, que peixe

macio e doce este é?--

--De tua mãe o pé--foi a resposta

 

Tradução: Matheus Carrera Massabki

 

 

 



 

*

Gregory Nunzio Corso (1930), poeta norte-americano, integrante da Geração Beat. Criado em orfanatos e instituições juvenis, foi condenado, aos 17 anos, a três anos de prisão, por atos de delinquência. Encontrou-se a primeira vez com Allen Ginsberg em 1950, no bairro boêmio do Greenwich Village, e passou a fazer parte do grupo de jovens poetas que se reuniam na livraria City Lights. Seu primeiro volume de versos, The Vestal Lady on Brattle, foi publicado em 1955. Outros títulos publicados pelo autor: The Happy Birthday of Death (1960), Long Live Man (1962), Selected Poems (1962), The Mutation of the Spirit (1964), Elegiac Feelings American (1970), Herald of the Autochthonic Spirit (1981), além de peças de teatro e uma novela.

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