ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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GUILLAUME APOLLINAIRE

 

OMBRE

Vous voilà de nouveau près de moi
Souvenirs de mês compagnons morts à la guerre
L'olive du temps
Souvenirs qui n'en faites plus qu'un
Comme cent fourrures ne font qu'un manteau
Comme ces milliers de bleussures ne font qu 'un article
     de journal
Apparence impalpable et sombre Qui avez pris
La forme changeante de mon ombre
Um Indien à l'affût pendant l'éternité
Ombre vous rampez près de moi
Mais vous ne m'entendez plus
Vous ne connîtrez plus les poèmes divins que je chante
Tandis que moi je vous entends je vous vois encore
Destinées
Ombre multiple que le soleil vous garde
Vous qui m'aimez assez pour ne jamais me quitter
Et qui dansez au soleil sans faire de poussière
Ombre encre du soleil
Écriture de ma lumière
Caissons de regrets
Un dieu qui s'humillie

 

SOMBRA

Aqui estás de novo perto de mim
Lembranças de meus companheiros mortos na guerra
A oliva do tempo
Lembranças que formam uma só
Assim como cem peles formam um só casaco
E centenas de feridos só fazem uma notícia
    de jornal
Aparência impalpável e sombria que havias tomado
A forma cambiante de minha sombra
Um índio à espreita por toda a eternidade
Sombra tu rastejas perto de mim
Mas já não me olhas nem me ouves
Não conhecerás os poemas sublimes que canto
Enquanto sou eu quem os digo e os vejo
Destinos
Sombra múltipla que o sol te guarda
Tu que amas o suficiente para não me deixar nunca
E que danças ao sol sem levantar poeira
Sombra tinta do sol
Escritura de minha luz
Arcão de penas
Um deus que se humilha

Tradução: André Dick

 

TOUR

Au Nord au Sud
Zênith Nadir
Et les grands cris de l'Est
L'Océan se gonfle à l'Ouest
La Tour à la Roue
S'adresse

TORRE

Ao Norte ao Sul
Zênite Nadir
E os grandes gritos do Leste
O oceano se distende a Oeste
A Torre à Rua
Se endereça

Tradução: André Dick

 

 

LE PONT MIRABEAU

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
  Et nos amours
      Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine

   Vienne la nuit sonne l'heure
   Les jours s'en vont je demeure

 

Les mains dans les mains restons face à face
  Tandis que sous
       Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse

   Vienne la nuit sonne l'heure
   Les jours s'en vont je demeure

 

L'amour s'en va come cette eau courante
   L'amour s'en van
        Comme la vie est lente
Et comme l'Espérance est violente

               Vienne la nuit sonne l'heure
   Les jours s'en vont je demeure

Passent les jours et passent les semaines
    Ni temps passé
        Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

               Vienne la nuit sonne l'heure
   Les jours s'en vont je demeure

 

A PONTE MIRABEAU
(Duas versões do poema)

Sob a ponte Mirabeau corre o Sena
   E nossos amores
      É preciso recolocar as dores em cena
A alegria sempre atrás da pena
         Chegada a noite a hora comemora
   Os dias se vão não vou embora

Com as mãos juntas face a face
    Enquanto por sob a ponte
        De nossos braços passe
Do eterno olhar a onda em desenlace
       Chegada a noite a hora comemora
       Os dias se vão não vou embora

O amor se vai como água corrente
    Com o amor não é diferente
        Esta vida também flui lenta
E a Esperança, tão violenta
    Chegada a noite a hora comemora
    Os dias se vão não vou embora

Passam os dias, passam as semanas
    E nenhum tempo acena
       Nem há amores para mais drama
Sob a ponte Mirabeau corre o Sena
 
    Chegada a noite a hora comemora
    Os dias se vão não vou embora

Tradução: André Dick

 

 

A PONTE MIRABEAU

Sob a ponte Mirabeau corre o Sena
   E nosso amor
      É preciso trazê-lo à cena
Vinha sempre a alegria antes da pena
         Venha a noite, soe a hora
         Os dias se vão, não vou embora

De mãos dadas ficamos face à face
         Enquanto que sob
A ponte dos nossos braços passa
Eternos olhares a onda tão lassa
        Venha a noite, soe a hora
         Os dias se vão, não vou embora

O amor se vai como água corrente
            O amor se vai
Como a vida é lenta
Como a esperança é violenta
         Venha a noite, soe a hora
         Os dias se vão, não vou embora

Passam os dias e as semanas
            Nem o tempo passado
      Nem o amor acena
Sob a Ponte Mirabeau flui o Sena.

Tradução: Virna Teixeira

 

SIGNE

Je suis soumis au Chef du Signe de l'Automne
Partant j'aime les fruits je déteste les fleurs
Je regrette chacun des baisers que je donne
Tel un noyer gaulé dit au vent ses douleurs

Mon Automne éternelle ô ma maison mentale
Les mains des amantes d'antan jouchent ton sol
Une épouse me suit c'est mon ombre fatale
Les colombes ce soir prennent leur dernier vol

SIGNO

Fui submetido à Regência do Signo de Outono
Portanto amo as frutas e detesto as flores
Lamento todos os beijos de que fui dono
Igual à nogueira colhida diz ao vento suas dores

Meu outono eterno ó minha estação mental
Mãos dos amantes de outrora em teu solo agarradas
Uma esposa me segue, é minha sombra fatal
As pombas à tarde batem suas últimas asas

 

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Tradução: André Dick

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Guillaume Apollinaire - escritor francês de origem polonesa, nasceu em 1880. Poeta, estudioso de artes plásticas e dramaturgo, esteve ligado aos movimentos de vanguarda do início do século XX, como o cubismo e o futurismo. Lutou na I Guerra Mundial, sendo gravemente ferido; de volta a Paris, levou vida boêmia, desregrada, tendo inclusive publicado obras pornográficas para ganhar seu pão. Faleceu em 1918, ano de conclusão do conflito bélico. A poesia de Apollinaire, inovadora (sobretudo Alcools, de 1913, e Caligramas, de 1918) adotou recursos como o verso livre, a supressão da pontuação, as "palavras em liberdade" e recursos espaciais da caligrafia ideogrâmica chinesa. Apollinaire destacou-se também como dramaturgo (As Mamas de Tirésias, 1917), crítico de artes plásticas (Os Pintores Cubistas, 1913)  e ensaísta (O Espírito Novo e os Poetas, 1946 ), e é de sua autoria o termo "surrealista". De sua enorme produção, é a poesia que ocupa o primeiro plano; além das coletâneas citadas, merecem destaque o Bestiário (1911), Choix de Poésies (1946), Poèmes Secrets a Madelaine (1949) e Poèmes (1962). Apollinaire exerceu notável influência sobre os modernistas brasileiros, nos anos 20, como Mário e Oswald de Andrade.

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