ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 HART CRANE



 

 

AND BEES OF PARADISE

 

I had come all the way here from the sea,

Yet met the wave again between your arms

Where cliff and citadel – all verily

Dissolved within a sky of beacon forms –

 

Sea gardens lifted rainbow-wise through eyes

I found.

 

               Yes, tall, inseparably our days

Pass sunward. We have walked the kindled  skies

Inexorable and girded with your praise,

 

By the dove filled, and bees of Paradise.

E ABELHAS PARADISÍACAS

 

Cruzei o mar inteiro até aqui,

Mas vi de novo a onda entre teus braços

Onde encosta e forte – juntos, ali,

Dissolvidos num céu de alvos traços –

 

Jardins erguiam – olho afora – mareados

Achei.

 

            Sim, sem cisão, os nossos dias

Vão sob o sol. Cruzamos céus bem claros

Duros, vivos de tua apologia,

 

Junto à pomba, e abelhas Paradisíacas.

 

 

 

O CARIB ISLE!

 

The tarantula rattling at the lily’s foot

Across the feet of the dead, laid in white sand  

Near the coral beach—nor zigzag fiddle crabs  

Side-stilting from the path (that shift, subvert

And anagrammatize your name)—No, nothing here  

Below the palsy that one eucalyptus lifts  

In wrinkled shadows—mourns.

 

                    And yet suppose

I count these nacreous frames of tropic death,  

Brutal necklaces of shells around each grave  

Squared off so carefully. Then

 

To the white sand I may speak a name, fertile

Albeit in a stranger tongue. Tree names, flower names  

Deliberate, gainsay death’s brittle crypt. Meanwhile  

The wind that knots itself in one great death—

Coils and withdraws. So syllables want breath.

 

But where is the Captain of this doubloon isle

Without a turnstile? Who but catchword crabs

Patrols the dry groins of the underbrush?

What man, or What

Is Commissioner of mildew throughout the ambushed senses?  

His Carib mathematics web the eyes’ baked lenses!

 

Under the poinciana, of a noon or afternoon

Let fiery blossoms clot the light, render my ghost  

Sieved upward, white and black along the air  

Until it meets the blue’s comedian host.

 

Let not the pilgrim see himself again

For slow evisceration bound like those huge terrapin  

Each daybreak on the wharf, their brine-caked eyes;

—Spiked, overturned; such thunder in their strain!  

And clenched beaks coughing for the surge again!

 

Slagged of the hurricane—I, cast within its flow,  

Congeal by afternoons here, satin and vacant.

You have given me the shell, Satan,—carbonic  amulet  

Sere of the sun exploded in the sea.

Ó ILHA CARIBENHA!

 

A tarântula inquieta ao rés do lírio

Pelos pés do morto, sobre a areia branca

que cerca os corais – sequer siris violinistas

Ladeando no curso  (que mudam, subvertem

E em que põem seu nome em anagrama) – Não, nada 

Sob a sonolência que um eucalipto ergue

Em sombras franzidas – lamenta.

 

             Mas suponha

Que eu conte os quadros de morte ardente, feitos em nácar;

Brutos colares de conchas em volta dos túmulos

Traçados com cuidado. Então

 

Que à areia branca eu possa falar um nome, fértil,

Ainda que em língua estranha. Nomes de flores, de árvores

Quebram a frágil cripta dos mortos. Enquanto isso,

O vento que ata a si mesmo uma tônica morte –

Dança e se afasta. Assim, as sílabas não querem mais corte.

 

Mas onde está o Capitão desta ilha do tesouro

Sem catraca? Quem, exceto os siris caça-palavras,

Patrulha estas áridas arestas do mato?

Que homem, ou o Que

É Comissário de mofo pelos sentidos emboscados?

Caribenha, a lógica dele enreda os olhos queimados!

 

Por sob a poinciana, ao meio-dia ou à tarde,

Que flores de fogo coagulem a luz, levem meu espírito

Crivado céu acima, em branco e preto pelo vento,

Chegando, por fim, até o cômico chefe do paraíso.

 

Que o viajante não veja a si mesmo por mais uma vez,

Pois a lenta evisceração prende, tal faz com as tartarugas

A cada alvorada, no cais, olhos secos com sal;

- vencidas; trovão sobre aquilo que se é!

E bicos cerrados tossindo por nova maré!

 

Escombro do ciclone – Eu, fundido com o fluxo,

Congelado por tardes daqui, setinosas e vagas.

Você me deu a concha, Satã, - amuleto carbônico

Seco no sol explodido no mar.

 

 

 

NORTH LABRADOR

 

A land of leaning ice

Hugged by plaster-grey arches of sky

Flings itself silently

Into eternity.

 

“Has no one come here to win you

Or left you with the faintest blush

Upon your glittering breasts?

Have you no memories, O Darkly Bright?”

 

Cold-hushed, there is only the shifting of moments

That journey toward no Spring –

No birth, no death, no time nor sun

In answer.

NORTH LABRADOR

 

Uma terra de gelo inclinado,

Por arcos de gesso celeste abraçada,

Se lança, calada,

À eternidade.

 

“Não veio viva alma a fim de te ganhar

Ou deixar sequer o menor rubor

Sobre teus seios brilhantes?

Acaso não tens lembranças, Ó Brilho Sombrio?”

 

Congelada a palavra, só há a alternância das horas

Jornada sem Primavera –

Sem nascimento, morte, tempo ou sol

Em resposta.

 

 

Tradução: Anderson Lucarezi

 



 

*

Nascido em 1899, em Ohio (EUA), Hart Crane foi um dos nomes de relevância no contexto do chamado modernismo norte-americano. Filho de pais que viviam em conflito, Hart passou boa parte da vida em desentendimento com o pai, que era um bem sucedido comerciante de doces que criticava o filho pelo dedicação à poesia e pela pouca dedicação ao trabalho. Tendo começado a escrever cedo, veio a publicar seu primeiro livro – “White Buildings” – em 1926. Sua obra mais reconhecida, no entanto, é “The Bridge”, um longo poema, publicado em 1930, que se assemelha, esteticamente, a “The Waste Land”, de Eliot. Muito ligado ao álcool, o poeta se suicidou em 1932, saltando de um barco em meio ao golfo do México. Entre seus escritos, encontrou-se um grupo de poemas aparentemente preparados para publicação – “Key West: An Island Sheaf”.

*

 

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