ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - home ]

 

 

JEAN-JOSEPH RABERAIVELO

 

 

IV

Ce qui se passe sous la terre,
au
nadir lointain?
Penche-toi prés d´une fontaine,
près d´un fleuve
ou d´une source:
tu y verras la lune
tombée dans un trou,
et
tu t´y verras toi-même,
lumineux e silencieux,
parmi les arbres sans racines,
et où viennent des oiseaux muets.

 

IV

O que se passa sob a terra,
no
nadir distante?
Inclina-te
junto a uma fonte,
junto a um rio
ou de uma nascente:
tu verás a lua
caída num buraco,
e verás a ti
mesmo,
luminoso e silencioso,
entre as árvores sem raízes,
onde achegam-se pássaros mudos.

 

XIX

Il aura un jour, un jeune poète
que réalisera ton vou impossible
pour avoir connu
tes livres
rares comme les fleurs souterraines,
tes livres écrit pour cent amis,
e non pour un, et non pour mille.

Sur le golfe d´ombre où il te relira
à la seule lueur de son cour où rebattra le tien,
il ne
te croira pas
dans les houles pacifiques
dont s´empliront toujours les abysses sans soleil,
ni dans le sable, ni dans la terre rouge,
ni sous les rochers dévorés de lichens
qui s´étendront derrière lui
jusqu´au pays des vivants
aveugles e sourds depuis la Genèse.

Il lèvera la tête
et pensera
que c´est dans l´azur,
parmi les étoiles et les vents,
que ton tombeau aura été érigé.

 

XIX

Haverá um dia, um jovem poeta
que realizará teu anelo impossível
por ter conhecido teus livros
raros como as flores subterrâneas,
teus livros escritos para cem amigos,
e
não para um, e não para mil.

Sobre o golfo de sombra onde ele te lerá
ao
único clarão de seu coração onde retumba o teu,
ele não te crerá nos pacíficos marulhos
que sempre infundirão os abismos sem sol,
nem na areia, nem na terra vermelha,
nem sob os rochedos devorados de líquens
que se estenderão por trás dele
até o país dos viventes
cegos e surdos após o Gênese.

Ele erguerá a cabeça
e pensará que é no azul,
entre as estrelas e o vento,
que tua tumba foi erguida. 

  
*

Tradução: Antônio Moura

 

 *

 

Jean-Joseph Raberaivelo nasceu em 1901 ou 1903 em Tanarivo (Madagascar). Publicou La coupe de cendres (1924), Sylves (1927) e Volumes (1928), entre outros títulos. Suicidou-se em 1937, após atravessar grave crise pessoal. No Brasil, foi publicada uma antologia de seus poemas, Quase-Sonhos, com organização e tradução de Antônio Moura, pela Lumme Editor (2005).

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2007 ]