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JESÚS SEPÚLVEDA
MADAME ARD
Esta noche no, Madame Ard
Un precipicio se forma en los cristales
Hay un televisor encendido en la esquina del restaurant
y los hombres sueñan con el mejor gol de la noche
Tumor que crece con vida propia
Las polillas revolotean alrededor de los tubos fluorescentes
Mancho mi chaqueta con mostaza
Nadie existe en la plaza próxima
Esta noche no, Madame Ard
Tengo la nariz con sangre
y temo la pequeña muerte
MADAME ARD
Esta
noite não, Madame Ard
Um precipício se forma nos cristais
Há um televisor incendiado na esquina do restaurante
e os homens sonham com o melhor gol da noite
Tumor que cresce com vida própria
As mariposas revoluteiam ao redor dos tubos
fluorescentes
Mancho minha jaqueta com mostarda
Ninguém existe na praça próxima
Esta noite não, Madame Ard
Tenho o nariz com sangue
e temo a pequena morte
EL
BÚHO Y LA ALONDRA
El búho lee a William Carlos Williams en
castellano
La alondra un artículo sobre Pinochet en
inglés
El
búho y la alondra duermen juntos todas las noches del año
Preparan cuidadosamente la cena
Bailan tango / Toman café
Jamás se emborrachan ni fuman demasiado
Corren cuatro o cinco veces por semana
Él dejó el cigarrillo ella el estrés
El
búho se emociona cuando escucha a Gardel
Ni que fuera argentino o cafiche de barrio
La
alondra baila como loca
cuando suena en el estéreo Ani di Franco (su último CD)
Mueve los brazos
Canta
El
búho se viste de negro
La alondra se lustra los zapatos
Hay mañanas muy heladas cuando corren con sus guantes
Nadie sabe matemáticas
¿Cuántos kilómetros son 6 millas?
¿Y cuántos pares son tres moscas?
En
este poema el búho sale primero
La
alondra corre al baño
Todas las mañanas caen manzanas
En la luna no hay manzanas
La
alondra llama por teléfono
Corre al supermercado / Compara los precios
El búho limpia
Y
trabajan / sí que trabajan
Duro todo el año
Duermen de la noche a la mañana
Luego trabajan
Comen pan / Beben vino
Con la cena se alimentan
El
general hace artesanía con la muerte
Williams enmudece
El búho y la alondra duermen
Corren
Se
protegen del frío
y de la inquietud
El
búho y la alondra
A veces hay días que duele despertar
O
MOCHO E A COTOVIA
O
mocho lê William Carlos Williams em espanhol
A cotovia um artigo sobre Pinochet em inglês
O
mocho e a cotovia dormem juntos todas as noites do ano
Preparam cuidadosamente a ceia
Dançam tango / Tomam café
Jamais se embriagam nem fumam em excesso
Correm quatro ou cinco vezes por semana
Ele deixou o cigarro ela o estresse
O
mocho se emociona quando escuta Gardel
Não importa que fosse argentino ou
cafetão de bairro
A
cotovia dança como louca
quando toca no estéreo Ani di Franco (seu último CD)
Move os braços
Canta
O
mocho se veste de negro
A cotovia lustra seus sapatos
Há manhãs muito geladas quando correm com suas luvas
Ninguém sabe matemáticas
Quantos quilômetros são 6 milhas?
E quantos pares são três moscas?
Neste
poema o mocho sai primeiro
A cotovia corre ao banho
Todas as manhãs caem maçãs
Na lua não há maçãs
A
cotovia chama no telefone
Corre ao supermercado / Compara os preços
O mocho limpa
E
trabalham / sim que trabalham
Duro todo o ano
Dormem da noite à manhã
Depois trabalham
Comem
pão / Bebem vinho
Com a ceia se alimentam
O
general faz artesanato com a morte
Williams emudece
O
mocho e a cotovia dormem
Correm
Se
protegem do frio
e da inquietude
O
mocho e a cotovia
Às vezes há dias em que dói despertar
Traduções:
Claudio Daniel
*
Jesús Sepúlveda
(Santiago de Chile, 1967). Em seu país de origem publicou
Lugar de origen (1987) e Hotel Marconi (1998),
cuja reedição bilingüe espanhol-inglês apareceu em 2006. É
também autor de Correo negro (Buenos Aires, 2001) e
Escrivania (México, 2003). Em 2002 publicou na
Argentina o ensaio eco-libertário El jardín de las
peculiaridades, reeditado em inglês en 2005 (Los
Angeles, California) e traduzido recientemente ao francês.
Outros textos seus foram traduzidos ao português e ao
finlandês.