JOAN BROSSA
EL BOSC
Durant anys i anys els boscos.
La vida als boscos.
A primer terme, l’entrada d’un bosc.
Hi ha algú adormit sota un arbre.
O BOSQUE
Durante anos e anos os bosques.
A vida nos bosques.
Em primeiro plano, a entrada de um bosque.
Há alguém dormindo sob uma árvore.
LA TEVA PIPA
La teva pipa de la pau.
Jo te la vaig regalar un any
Per transfigurar una festa.
Tens la pipa a la mà,
Simules d’aspirar i treure el fum.
Fumem la pipa de la pau
I estirem les mans.
–Els Pells-Roges són amics dels infants
–Em dius–, recorda Peter Pan.
La pipa de la pau.
Aquesta pipa que tindrem
Penjada a la paret,
I formarà part del moblatge
A casa nostra.
O TEU CACHIMBO
O teu cachimbo da paz.
Eu te dei de presente um ano
Para transfigurar uma festa.
Você tem o cachimbo na mão.
Finge aspirar e expelir a fumaça.
Fumemos o cachimbo da paz
E estendamos as mãos.
– Os Peles-Vermelhas são amigos das crianças
– Me diz – lembra Peter Pan.
O cachimbo da paz.
Este cachimbo que teremos
Pendurado na parede,
E fará parte do mobiliário
Na nossa casa.
INSTAL·LACIÓ
Sempre li plau d’actuar;
però és com un tramvia:
té els seus rails i no hi ha
manera que se n’aparti.
INSTALAÇÃO
Gosta sempre de representar;
mas é como um bonde:
tem os seus trilhos e não há
jeito de se apartar deles.
* * *
En lloc de reformar l’individu
a fi de mudar les estructures
que serveixen per a coaccionar-lo,
¿no valdria més mudar les estructures
per intentar una millora individual?
Em vez de reformar o indivíduo
a fim de mudar as estruturas
que servem para coagi-lo
não seria melhor mudar as estruturas
para tentar uma melhora individual?
* * *
Aquesta llei no serà més
que una altra llei. ¿I qui
la farà complir? Una
altra llei.
Esta lei não será mais
que outra lei. E quem
a fará cumprir? Outra
lei.
FANAL EN FORMA DE PENSAMENT
No solament la bellesa
sinó la bondat
No solament la bondat
sinó la veritat
No solament la veritat
sinó que s’ha apagat.
LANTERNA EM FORMA DE PENSAMENTO
Não somente a beleza
mas a bondade
Não somente a bondade
mas a verdade
Não somente a verdade
mas o que se apagou.
LA MONEDA AL MITJÓ
¿Vós creieu que el nom té influència damunt
el caràcter?
El terra és desigual: hi ha altituds
i depressions.
Hauríem d’educar la mà esquerra
igual que la dreta.
La carta que heu posat al plat deu ser
una figura.
Una agulla fa conèixer la pregunta.
La cua d’aquest bou sembla un espantamosques.
Amb els ulls he inflamat un got d’aigua.
Al paisatge només destaquen alguns detalls
de primer terme.
Les plantes i els insectes donen un significat
a tot.
A MOEDA NA MEIA
O senhor acredita que o nome tem influência sobre
o caráter?
A terra é desigual: há altitudes
e depressões.
Teríamos de educar a mão esquerda
tal como a direita.
A carta que vocês colocaram no prato deve ser
uma figura.
Uma agulha dá a conhecer a pergunta.
O rabo desse boi parece um espanta-moscas.
Com os olhos incendiei um copo d’água.
Na paisagem apenas se destacam alguns detalhes
de primeiro plano.
As plantas e os insetos dão um significado
a tudo.
* * *
L’olor de la pluja, la vista del
mar, la fúria de la tempestat,
el xiulet del vent, el so de la
veu basten per a despertar-me
idees que algú ja deu haver tingut.
O cheiro da chuva, a vista do
mar, a fúria da tempestade,
o assobio do vento, o som da
voz bastam para despertar-me
idéias que alguém já deve ter tido.
* * *
Núvols de pluja.
El camí corre entre els arbres.
M’he habituat a tenir sempre una
frontera per a aconseguir.
Nuvens de chuva.
O caminho corre entre as árvores.
Habituei-me a ter sempre uma
fronteira para atingir.
* * *
Encara no em puc moure?, pregunto mentre
algú dibuixa damunt la paret
el perfil de la meva ombra.
Ainda não posso mexer?, pergunto enquanto
alguém desenha sobre a parede
o perfil da minha sombra.
CADENA
A
mi
em
fa
pena
que
a
B
li
faci
pena
C
per
la
pena
que
sent
per
mi.
CADEIA
A
mim
me
dá
pena
que
a
B
lhe
dê
pena
C
pela
pena
que
sente
de
mim.
UM MOT
Aquest mot, tantes vegades
aplicat a la lleugera, el necessito aqui
i ja no em serveix.
UMA PALAVRA
Esta palavra, tanta vezes
aplicada sem pensar, preciso dela aqui
e já não me serve.
Tradução: Ronald Polito
*
Joan Brossa nasceu em Barcelona (Espanha), em 1919. Começou a publicar seus primeiros poemas na década de 40, época em que conheceu Antoni Tàpies e Jean Ponç, com os quais editaria a revista Dau a Set, de grande importância para a moderna cultura catalã. No final dos anos 40, tornou-se amigo do então cônsul João Cabral de Melo Neto, que viria a publicar dois de seus livros em uma prensa manual. O livro En va fer, editado por Cabral, consolida o estilo objetivo e irônico do poeta, voltado ao mesmo tempo a temas do cotidiano e à reflexão sobre o próprio fazer poético. Além dos numerosos livros de poesia que publicou, tornando-se um dos maiores escritores da língua catalã, Joan Brossa também deixou uma vasta e interessante obra como artista plástico, em que se destacam particularmente os objetos que criava a partir de objetos do cotidiano, e que ele chamava de poemas. No Brasil, foi traduzido pelos poetas Sérgio Alcides e Ronald Polito (Poemas civis, Rio de Janeiro: 7 Letras, 1998) e por Vanderley Mendonça (Poesia vista, São Paulo: Amauta, 2005). Joan Brossa, que gostava de definir-se como "dramaturgo, melômano, cinéfilo, mago, artista e poeta", morreu em 1998.
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