JOAN MARAGALL
LA VACA CEGA
Topant de cap en una i altra soca,
avançant
d'esma pel camí de l'aigua,
se'n
ve la vaca tota sola. És
cega.
D'un
cop de roc llançat amb massa traça,
el
vailet va buidar-li un ull, i en l'altre
se
li ha posat un tel: la vaca és cega.
Ve
a abeurar-se a la font com ans solia,
mes
no amb el ferm posat d'altres vegades
ni
amb ses companyes, no: ve tota sola.
Ses
companyes, pels cingles, per les comes,
pel
silenci dels prats i en la ribera,
fan
dringar l'esquellot, mentre pasturen
l'herba
fresca a l'atzar... Ella cauria.
Topa
de morro en l'esmolada pica
i
recula afrontada; però torna
i
abaixa el cap a l'aigua i beu calmosa.
Beu
poc, sens gaire set.
Després aixeca
al
cel, enorme, l'embanyada testa
amb
un gran
gesto
tràgic; parpelleja
damunt
les mortes nines, i se'n torna
orfe
de llum, sota del sol que crema,
vacil·lant
pels camins inoblidables,
brandant
llànguidament la llarga cua.
A
VACA CEGA
Topando de cabeça em alguns tocos,
seguindo
rotineira em busca d'água,
lá
vem tão solitária a vaca. É cega.
Com
boa pontaria e uma pedrada,
o
moleque vazou-lhe um olho, e ao outro
cobriu
uma ferida: a vaca é cega.
Da
fonte vem beber, como antes vinha,
mas
não com a firmeza de outros tempos
nem
com as companheiras: vem sozinha.
Suas
colegas, por declives, morros,
no
silêncio do prado e na ribeira,
tilintam
a sineta, enquanto pastam
a
relva fresca ao léu... Ela cairia.
Dá
de cara no afiado bebedouro
e
recua, afrontada; mas retorna,
baixa
a cabeça na água e bebe, calma.
Bebe
pouco, sem sede. Depois ergue
ao
céu, enorme, sua córnea testa
num
grande gesto trágico; então pisca
sobre
as meninas mortas, e se volta,
órfã
de luz embaixo do sol que arde,
palmilhando
um caminho inesquecível,
brandindo
lânguida uma cauda longa.
*
Tradução:
Fábio Aristimunho
*
Joan
Maragall
(Barcelona, 1860-1911).
Poeta modernista de múltiplas temáticas, tratou em sua obra
das grandes constantes da poesia: o amor, a morte, a natureza,
a exaltação à terra, a espiritualidade, as lendas etc. É o
grande representante do período conhecido como Renascencimento
da literatura catalã. Seu poema A vaca cega é um dos
maiores e mais populares monumentos da língua catalã, tendo
sido traduzido para diversas línguas; em português há uma
tradução de Ronald Polito.
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