JORDI MAS
elegia paterna
perla
umi hutaru
in stercore invenitur
elegia paterna
pérola
umi hutaru
in stercore invenitur
elegia paterna
quan jo era petit, el meu pare
feia olor de codonys madurs,
de suor, de tabac,
de pols i de palla, de blat,
i de fems de porc, de vegades
alguns dissabtes,
quan ja feia una bona estona
que ell era al tros a treballar,
jugàvem, amb els meus germans,
al llit fred i desfet:
ens tapàvem amb les flassades
i, arraulits sobre el matalàs,
que servava l’empremta
de les seves espatlles,
comprovàvem qui era
que aguantava més temps
la pudor de formatge
crec que jo solia guanyar
D’Horus al desert (2009)
elegia paterna
quando eu era pequeno, meu pai
cheirava a marmelos maduros,
a suor, a tabaco,
a pó e a palha, a trigo,
e a esterco, às vezes
em alguns sábados,
quando já fazia bastante tempo
que ele estava no campo trabalhando,
brincávamos, com meus irmãos,
na cama fria e desfeita:
nos cobríamos com os lençóis
e, encolhidos sobre o colchão,
que conservava a marca
de seus ombros,
apostávamos quem
suportaria por mais tempo
o cheiro de chulé
creio que era eu quem ganhava
De Horus al desert (2009)
perla
més enllà
de la closca
endurida,
més enllà
del cor tou,
temorenc,
el dolor
destil·lat
de la ferida
De Sema (2010)
pérola
para além
da concha
endurecida,
para além
do coração mole,
temeroso,
a dor
destilada
da ferida
De Sema (2010)
umi hotaru
les levíssimes balenes
són les reines de les aigües,
puix despatxen els missatges amb dofins,
executen les sentències amb taurons,
i atorguen tots els seus dons
amb llumenetes de mar
que quan tornen, consumides,
ja plàncton opac,
els són aliment
De Sema (2010)
umi hotaru
as levíssimas baleias
são as rainhas das águas
pois despacham mensagens com golfinhos,
executam sentenças com tubarões,
e outorgam todos seus dons
com vaga-lumes do mar
que, ao regressarem, consumidos,
já plâncton opaco,
são seu alimento
De Sema (2010)
vaig buscar el meu cor de pedra
a les barres dels bars,
a les pistes de ball,
a la sauna, a l’atzar
dels parcs públics
vaig buscar el meu cor de pedra
al silenci estremit
del saber dels antics,
als consells dels amics,
potser inútils
vaig buscar el meu cor de pedra
en els càlculs menuts
del paisatge diürn,
en uns goigs sempre buits,
sempre fútils
vaig buscar el meu cor de pedra
més enllà del desert,
a l’arrel de la set
d’un desig sense fe,
sense nucli
vaig buscar el meu cor de pedra
en la freda grisor
de la mort de l’amor,
en la sòbria amargor
del cel lúcid
De Sic transit (2010)
in stercore invenitur
procurei meu coração de pedra
nos balcões dos bares,
nas pistas de dança,
na sauna, no acaso
dos parques públicos
procurei meu coração de pedra
no silêncio estremecido
do saber dos antigos,
nos conselhos dos amigos,
talvez inúteis
procurei meu coração de pedra
nos pequenos cálculos
da paisagem diurna,
em alegrias sempre vazias,
sempre fúteis
procurei meu coração de pedra
para além do deserto,
na raiz da sede
de um desejo sem fé,
sem núcleo
procurei meu coração de pedra
na frieza cinzenta
da morte do amor,
na sóbria amargura
do céu lúcido
De Sic transit (2010)
Tradução: Jorge Lucio de Campos
*
Jordi Mas, Santa Coloma de Queralt, Catalunha, 1972. Professor de língua e literatura japonesas na Universidade Autônoma de Barcelona. Publicou os livros de poemas Autoretrat amb esfinx (2008), Horus al desert (2009), Sema (2010) e o pequeno ciclo Sic transit (2010). Como tradutor, é responsável pelas versões em catalão dos clássicos japoneses Contos de Ise, de autor anônimo, e Diário de Tosa, de Ki no Tsurayuki, assim como pelos três volumes da novela 1Q84, de Haruki Murakami. Também é autor do volume Josep Maria Junoy i Joan Salvat-Papasseit: dues aproximacions a l’haiku e de diversos ensaios sobre a apropriação de formas poéticas japonesas por parte da literatura em língua catalã. |