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JORGE GUILLÉN

 


AL MARGEN DE ERASMO
ELOGIO DE LA CORDURA

Verum est duplex insaniae genus
Stultitiae laudatio, XXXVIII

Las furias, inocentes,
Al desarmado asaltan apartándole
De sí mismo y del mundo,
Y sin casi contactos,
Sin tierra bajo el pie,
Flota en su viento el infeliz, demente,
Hombre ya degradado, sin razón,
O tal vez con innúmeras razones,
Animal ya tampoco,
Sin rumbo a clara vida.
Qué quiere hacer? Matarse,
Beber su orín, creerse el dios Neptuno,
Muy violento o manso o enigmático
Según las sombras de sus propias fábulas?
Peor quizá si la razón preside
La locura del cuerdo o casi cuerdo,
A la luz de fulgores absolutos
En furor de cruzada. No miréis.
Es horrible aguentar el espetáculo
De un crimen en el nombre de algún dios.


À MARGEM DE ERASMO
ELOGIO DA PRUDÊNCIA

Verum est duplex insaniae genus
Stultitiae laudatio, XXXVIII

As fúrias, inocentes,
Ao desarmado assaltam, apartando-o
De si mesmo e do mundo,
E sem quase contatos,
Sem terra sob os pés,
Flutua em seu vento o infeliz, demente,
Homem já degradado, sem razão,
Ou talvez com inúmeras razões,
Animal já tampouco,
Sem rumo à clara vida.
Que quer fazer? Matar-se,
Beber sua urina, crer-se o deus Netuno,
Tão violento ou manso ou enigmático
Segundo as sombras de suas próprias fábulas?
Pior talvez se a razão preside
A loucura do juízo ou quase juízo
À luz de fulgores absolutos
Em furor de cruzada. Não olhes.
É horrível agüentar o espetáculo
De um crime cometido em nome de algum deus.

*

Tradução: Claudio Daniel

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Jorge Guillén, poeta espanhol, nasceu em 1893 e faleceu em 1984. Sua obra une a herança do barroco com as tendências da poesia moderna, e é rica em citações eruditas. É um poeta de feição mais intelectual do que popular, ao contrário de seu contemporâneo García Lorca. Entre seus títulos principais estão Cântico (1928) e Mare Magnum (1957).

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