MESTER DE HECHICERÍA
A María del Carmen Suárez
Hay que comer
un corazón de tigre joven
para tener afiladas
las zarpas;
hay que llegar
al centro de la estepa
y cortarle la
lengua a un lobo hambriento
para poder hablar
con la luna;
hay que peregrinar
con los tarahumaras
para ser rico
en silencio;
hay que sufrir
el celo de todos los animales
para conocer los
ritos del amor.
Recién entonces,
mujer,
ve al encuentro
de tu hombre
y camina a su
lado por las estaciones;
no vuelvas la
cabeza para llamar a tu inocencia
porque con ella
alguien prepara
un nuevo sortilegio.
TRABALHO DE FEITIÇARIA
A María del Carmen Suárez
É preciso comer
um coração de tigre jovem
para ter afiadas
as garras;
é preciso chegar
ao centro da estepe
e cortar a língua
de um lobo faminto
para poder falar
com a lua;
é preciso peregrinar
com os tarahumaras
para ser rico
em silêncio;
é preciso sofrer
o cio de todos os animais
para conhecer
os ritos do amor.
Apenas então,
mulher,
vai ao encontro
de teu homem
e caminha a seu
lado pelas estações;
não voltes a cabeça
para chamar tua inocência
porque com ela
alguém prepara
um novo sortilégio.
LAS VÍSCERAS DE DIOS
Sé que va a venir
y me apresto para la batalla
te noto, vecindad
del poema, te noto en las cosas que se alejan
en que todo puede
postergarse menos esto
es esta habitación,
es esta palabra
soy yo desde que
he nacido
con cada una de
las cicatrices que dejaron los rostros en mi vida
con cada uno de
los días que no volverán a repetirse
cada palabra que
se pronunció
y cada una que
dejó de pronunciarse
todos los sueños
olvidados
las remotas señales
de la divinidad
las serpientes
que a uno le devoran
o,
en las grandes épocas de sol,
que
uno suele devorar.
El
poema, esta Gran Ópera donde no faltan las marchas triunfales
los
puñales de hojalata
los
anillos con fondo secreto para guardar el veneno
las
traiciones
las
pelucas
los
sonámbulos
los
divos
los
dragones de cartón
los
verdaderos dragones
los
polifemos con su único ojo recién vaciado
deus
ex machina
ven
conmigo Dios a recorrer el mundo
ven
a este cuarto
y
te mostraré lo que es el poema.
AS VÍSCERAS DE DEUS
Sei
que vai vir e me apronto para a batalha
te
noto, vizinhança do poema, te noto nas coisas que se afastam
em
que tudo pode postergar-se menos isto
é
este aposento, é esta palavra
sou
eu desde que nasci
com
cada uma das cicatrizes que deixaram os rostos em minha
vida
com
cada um dos dias que não voltarão a se repetir
cada
palavra que se pronunciou
e
cada uma que deixou de pronunciar-se
todos
os sonhos esquecidos
os
remotos sinais da divindade
as serpentes que
devoram alguém
ou, nas grandes
épocas de sol,
que alguém costuma
devorar.
O poema, esta
Grande Ópera onde não faltam as marchas triunfais
os punhais de
folha-de-flandres
os anéis com fundo
falso para guardar o veneno
as traições
as perucas
os sonâmbulos
os divos
os dragões de
papelão
os verdadeiros
dragões
os polifemos com
seu único olho recém-vazado
deus ex machina
vem comigo Deus
correr mundo
vem a este quarto
e te mostrarei
o que é o poema.
RAZÓN
DE ANATOMÍA
me
he besado con poetas, pintores, cineastas
empleadas,
jew princesses, rateros, hippies
ingenieros,
tenores, guerrilleros
en
mi boca todos los caminos de la vida
es
tiempo / de ocuparme de mis pies
RAZÃO DE ANATOMIA
troquei beijos com poetas, pintores, cineastas
empregadas, jew princesses, ladrões, hippies
engenheiros, tenores, guerrilheiros
em minha boca todos os caminhos da vida
é tempo / de ocupar-me de meus pés