ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

MANOEL ANTONIO

 

 

 


AO REVERSO DA NOITE
 

Loceiros degolados
desángranse de
ouro no Mar 

    De par de nós
                a Lúa
fai ronseles
infecundos 

    Mentres sonea a mareta
vai folleando no libro das
velas

Irredentos velamios exhaustos
    resignados a
pendurar da cruz

    Estrelas inconscientes
mecanizan o obseso tic-tac

    A auga toda dos oceanos
ensumeuse nunha bágoa

    E o pano branco do novo día
enxugará os ollos do ceo.
 

 

AO AVESSO DA NOITE


Luzeiros
degolados
sangram
ouro no Mar 

    Tal como nós
                a Lua
faz rastros infecundos

    Enquanto adormece, a onda
vai folheando o livro das velas

Irredentos velames exaustos
    resignados a se pendurarem na cruz

    Estrelas inconscientes
mecanizam o insistente tic-tac

    A água toda dos oceanos
concentrou-se numa lágrima

    E o pano branco do novo dia
enxugará os olhos do céu.

 

in 'De quatro a quatro, folhas de um diário de bordo', 1928 

  

*

Traduções: Fábio Aristimunho

 *

 

Manoel Antonio (1900-1930). Foi militante do galeguismo e do republicanismo e desde jovem tomou parte ativa na vida literária galega. Adotava uma postura rebelde em questões políticas e participava com intensidade do momento político e social, contrapondo-se frontalmente ao conservadorismo de sua família. Iniciou o curso de Filosofia e Letras na universidade de Compostela, mas não chegou a concluir os estudos. Entre 1926 e 1927 foi marinheiro da marinha mercante, período em que redigiu o livro De Catro a Catro - follas dun diario de abordo (1928), seu poemário mais destacado. Morreu em 1930 em conseqüência da tuberculose.

*

 

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