ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

MARIANNE MOORE

 


ARTHUR MITCHELL

Slim dragonfly
too rapid for the eye
   to cage -
contagious gem of virtuosity -
make visible, mentality.
Your jewels of mobility

   reveal
      and veil
           a peacock-tail.

 

ARTHUR MITCHELL

Pequena libélula
tão rápida que a vista
   nem pega -
pérola infectada de virtuosidade -
deixe-se ser visão, mentalidade.
Suas jóias de tanta agilidade

   revelam
      e velam
           a cauda do pavão.

 

 

O TO BE A DRAGON

  IF I, LIKE SALOMON, …
      could have my wish -

    my wish … O to be a Dragon,
a symbol of the power of Heaven - of silkworm
size or immense; at times invisible.
      Felicitous phenomenon!

 

AH SER UM DRAGÃO

  Se eu, como Salomão,
      talvez conseguisse -

    conseguisse ... ah ser um dragão,
símbolo do poder dos céus - imenso
ou pequenino; e às vezes invisível.
      Prodigiosa aparição!

 


THE FISH

wade
through black jade.
  Of the crow-blue mussel-shells, one keeps
  adjusting the ash-heaps;
      opening and shutting it self like

an
injured fan.
  The barnacles which encrust the side
  of the wave, cannot hide
       there for the submerged shafts of the

sun,
split like spun
   glass, move themselves with spotlight swiftness
   into the crevices -
      in and out, illuminating

the
turquoise sea
  of bodies. The water drives a wedge
  of iron through the iron edge
      of the cliff; whereupon the stars,

pink
rice-grains, ink-
  bespattered jelly-fish, crabs like green
  lilies, and submarine
      toadstools, slide each on the other.

All
external
  marks of abuse are present on this
  defiant edifice -
      all the physical features of

ac-
cident - lack
  of cornice, dynamite grooves, burns, and
  hatchet strokes, these things stand
      out on it; the chasm-side is

dead.
Repeated
  evidence has proved that it can live
  on what can not revive
      its youth. The sea grows old in it.

 


OS PEIXES

quase
pelo escuro jade.
  Uma concha azul-corvo, entre tantas, fica
  arrumando os montes de cinza;
      abre e a si mesma fecha


como
um leque autônomo.
  Crustáceos que se incrustam atrás
  da onda não conseguem fugir mais
      dos submersos raios do

sol,
trincados como lençol
  de vidro, holofotes ágeis se movendo
  dentro das fendas
      num ir-e-vir que ilumina o mar

de
corpos turquesa.
  Enquanto a água calça com a cunha
  de ferro o ferro no cume
      do rochedo - estrelas,

águas-
-vivas, rosados
  grãos-de-arroz, caranguejos
  verdes-cinza e cogumelos-
      -do-mar escorrem uns nos outros.

As
marcas
  de todas as lesões se deixam ver
  neste edifício adverso -
      todos os traços físicos do a-

ci-
dente - a cornija
  que falta, queimaduras, cortes,
  rombos de dinamite, coisas
      que resistem; morto o a-

bismo.
Repetidas
  evidências mostraram que ele vive
  apenas do que nele não revive
      a juventude. Nele o mar é velhice.


Traduções: Leonardo Gandolfi

 


O PEIXE

 

Vade -

ar em vãos de jade negro

Corvo do mar remexe em conchas

- uma fica

a pairar na pilha de pó;

abre e fecha co-

mo ventila-

dor, engasgado.

Cracas incrustadas na anca

da onda, não encobrem

sinais

submersos do

sol,

piões de espuma reluzem

luar - pisca -

- pisca frestas de

sim a iluminar corpos

azuis

do mar. A

água deságua cunhas de aço,

atravessa gumes tensos,

- o aço de penh-

asco - era uma vez, estrelas

róseos

grãos de arroz, lama

sal pica medusa, caranguejo

quer ser lírio - verde

cogumelo - veneno marinho

permeia trocas

Todas

marcas externas

de abuso apresentam esse

edifício - desafio:

todas

pistas físicas de

aci-

dente - teto cai

estrias - dinamite

golpes de machado

provas de resistência:

a face do vácuo

está morta.

Insistente

vidência verbal - ele vive

sobre o que não lhe pode

reviver sua juventude. O

mar envelhece nele.

 

 

Tradução: Yara Azevedo Cardoso

 

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Marianne Craig Moore
(1898-1986), poeta norte-americana, autora de Poems (1921), onde revela forte sensibilidade visual aliada ao experimentalismo, fraturando a palavra e criando novas associações sonoras.  A autora, que exerceu influência na vanguarda literária dos EUA, também foi tradutora, vertendo para o inglês as Fábulas de La Fontaine.


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